A busca por padrões comportamentais físicos e emocionais
James Fleck, MD, PhD *
www.conexaoanticancer.com.br
Na prática clínica, o diagnóstico e o tratamento são baseados em mudanças morfológicas e fisiopatológicas predefinidas, que combinadas com o comportamento biológico da doença criam padrões clínicos facilmente identificados. Os médicos são treinados para reconhecer esses parâmetros, que geralmente apresentam algum grau de semelhança ou afinidade. Estes padrões podem ser traduzidos em narrativa.
A narrativa é uma metodologia pedagógica muito útil no desenvolvimento das habilidades do médico. É uma ferramenta valiosa não só para estudantes de medicina, mas também no processo de aprendizagem contínua ao longo da prática clínica. Histórias fictícias também podem mostrar como os médicos aprendem com os pacientes ao superarem as limitações induzidas pelas doenças. Progressivamente, esses modelos de enfrentamento podem ser reproduzidos por outros pacientes e familiares, sendo expandidos e aprimorados na busca por maior eficiência. A metodologia é baseada na empatia, que é um processo cognitivo bidirecional aplicado à relação médico-paciente. Surge uma relação construtiva de confiança e aprendizagem mútua. Cria-se um fluxo emocional favorável, que irá contribuir para melhores resultados.
Apesar da especificidade relacionada a cada caso clínico, existe alguma semelhança ou afinidade no fluxo emocional expresso pelo paciente? Na verdade, ninguém sabe, mas é um campo interessante de investigação na ciência do comportamento. Como hipótese alternativa é possível explorar a emoção como um processo bioquímico, que expressa algum grau de autossimilaridade, seguindo as mesmas leis naturais que regulam uma visão fractal do universo.
Em 1980, Benoît Mandelbrot foi para a IBM e bem no início da ciência da computação descreveu o que agora é chamado de conjunto de Mandelbrot. Com base na fórmula simples de polinômios quadráticos f(z) = z2 + c e alimentando novas coordenadas em um programa de computador, a iteração criou uma imagem interessante e bela, composta por números maiores que progrediam para o infinito ou números menores que diminuíam até zero. Esse programa foi a espinha dorsal da geometria fractal, que, em contraste com a geometria euclidiana, é capaz de explicar a maioria das formas vivas da natureza. Em seu caminho iterativo, um fractal tem altos níveis de organização, irregularidade de forma e autossimilaridade. Essas são propriedades geralmente encontradas em estruturas biológicas, tanto em processos saudáveis quanto em doenças. A dinâmica fisiológica, morfológica e patológica pode ser reconhecida como fractal. Uma dimensão fractal pode ser observada na maioria das células, tecidos e órgãos que constituem o corpo humano. A dimensão fractal também pode ser encontrada nas células tumorais, podendo ser responsável por seu comportamento biológico. A neurociência moderna identifica propriedades fractais no cérebro humano. Métodos avançados que usam inteligência artificial e aprendizado profundo podem teoricamente integrar propriedades morfológicas fractais do cérebro com padrões de comportamento.
Decidimos criar um modelo experimental. Os padrões de comportamento dos pacientes são ilustrados em vinhetas clínicas, que cobrem os tipos mais frequentes de câncer. Cada uma das vinhetas aborda os desafios físicos e emocionais enfrentados por aqueles que lutam contra a doença. A metodologia é inclusiva e centrada no paciente. O médico é o contador das histórias, alternando informações técnicas e empatia, visando construir um relacionamento forte e personalizado com cada paciente. A narrativa de cada conto reflete o fluxo emocional, seguindo uma abordagem gradual de resolução de problemas. Apoiadas por uma estrutura psicológica personalizada, as simulações clínicas inspiram o paciente a construir vínculos essenciais enquanto adquire as habilidades mais importantes para lidar com o câncer.
Existe alguma autossimilaridade associada ao fluxo emocional do paciente? Esta poderia ser descrita pela dimensão fractal? As emoções refletem padrões morfológicos?
Ninguém sabe, mas hoje já temos ferramentas computacionais avançadas que nos permitem explorar esta zona de penumbra intrigante. Depois de 35 anos de exercício quotidiano da medicina, iniciamos com a narrativa para descrever supostos padrões de comportamento em pacientes com câncer.
Contamos com sua participação neste novo projeto biopsicossocial.
Basta acessar o link abaixo e embarcar em nossa primeira simulação clínica:
Link: https://conexaoanticancer.com.br/livros/1-simulao-clnica
Referência:
1. Mandelbrot BB. The Fractal Geometry of Nature. San Francisco, CA:WH Freeman & Co; 1982.
2. Losa, GA: Fractals and their contribution to biology and medicine, Medicographia, 34 (3): 365 - 374, 2012
3. You Tube: Deepest Mandelbrot Set Zoom Animation ever - a New Record! Link: https://www.youtube.com/watch?v=0jGaio87u3A
* James Fleck, MD, PhD é Professor Titular de Oncologia Clínica na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil 2020
Para mim, como futura médica em formação, um grande desafio é lidar com pacientes com diagnóstico ou suspeita de câncer, devido ao grande tabu que envolve essa doença e devido à sensibilidade na qual esses pacientes se encontram. Desse modo, existindo - ou mesmo não existindo - autossimilaridade associada ao fluxo emocional do paciente, narrativas como as apresentadas nesse site são muito úteis para criar possíveis cenários e estimular meu pensamento crítico com relação a diferentes possíveis reações e sentimentos dos pacientes, com a finalidade de me preparar para futuras situações clínicas.
Na oncologia, uma das especialidades responsáveis por diagnosticar e tratar o câncer, percebemos a empatia como essencial no sucesso do tratamento. Sermos médicos acolhedores também deve fazer parte do tratamento que indicamos para nosso paciente. O uso de narrativa é uma maneira bastante significativa de registrar e concretizar para o paciente que ele está sendo ouvido e que seu bem-estar físico, mental e espiritual é o foco principal da nossa jornada como agentes de saúde. Além disso, para nós, futuros médicos, essas narrativas servem como exercício de pensamento das situações que possivelmente passaremos e podemos, desde já, nos questionarmos e nos prepararmos para tal.
Em minha visão, uma das habilidades mais importantes para ser um bom médico, é saber se relacionar com o paciente. Sobretudo, em áreas com o oncologia, uma vez que o câncer é uma doença muito temida e que provoca enorme comoção popular. Nesse sentido, é fundamental saber lidar com o paciente que, muitas vezes, estará em um momento de extrema vulnerabilidade e tudo o que for dito poderá ficar marcado em sua memória. Sendo assim, é importante investigar um padrão comportamental entre os pacientes diagnosticados com câncer, mas também tratá-los com empatia e de forma individual.
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