Prêmio conferido pelo Cancer Research Institute à descoberta do checkpoint imunológico PD-1
Fleck, J.F.: Conexão Anticâncer, 18(2):2015
Em 2014, o Cancer Research Institute conferiu o mais importante prêmio de distinção em Imunologia Tumoral aos pesquisadores Arlene Sharpe da Harvard Medical School, Gordon Freeman do Dana-Farber Cancer Institute, Tasuku Honjo da Kyoto University School of Medicine e Lieping Chen da Yale University School of Medicine pela descoberta do checkpoint imunológico PD-1 e sua relevância no tratamento do câncer.
Checkpoints imunológicos são moléculas presentes na superfície celular que controlam internamente a resposta autoimune, por meio de um sistema inibitório de sinalização celular. Trata-se de um gatilho de proteção, que evita que o sistema imunológico destrua as células do próprio corpo. As moléculas mais representativas deste sistema são a CTLA-4 e mais recentemente as proteínas da morte programada PD-1 e PD-L1.
As células tumorais interagem com os checkpoints para sobreviverem a destruição pelo sistema imunológico. Veja como isso ocorre com as proteínas da morte programada PD-1 e PD-L1. Muitas células do câncer expõem a proteína ligante PD-L1 que ao se fixar ao receptor PD-1 no linfócito, inibem o sistema imunológico. Desta forma, as células do câncer escapam do controle e continuam sua migração e multiplicação, favorecendo o crescimento e disseminação do tumor.
Este conceito vem sendo usado no tratamento do câncer. São anticorpos monoclonais, cuja abreviação é mab (do inglês monoclonal antibody) e que por isso agregam o sufixo mab em seus curiosos e quase impronunciáveis nomes. O ipilimumab é um anticorpo monoclonal anti-CTLA-4 e o nivolumab é um anticorpo monoclonal anti-PD-1. São drogas inteligentes, que vem se mostrando eficientes no tratamento de doenças como melanoma metastático, câncer de rim e de pulmão. Ao ligarem-se seletivamente as moléculas CTLA-4 e PD-1, bloqueiam a cascata de sinalização inibitória, liberando as células de defesa de nosso corpo (linfócitos) para que reconheçam e destruam as células tumorais.
Que cada vez mais pacientes possam se beneficiar destes anticorpos monoclonais. Drogas inteligentes, que proporcionam uma boa qualidade de vida.
O uso de anticorpos monoclonais tem auxiliado os pacientes em muitas doenças, como as doenças auto-imunes. Acho fascinante e muito interessante que eles tenham agora também um uso muito promissor para os pacientes com câncer. Nada melhor para o paciente do que utilizar o seu próprio organismo para combater o câncer. Isso é, na verdade, muito inteligente. Essa nova opção para tratamento de câncer ainda é muito recente, mas é uma verdadeira revolução e acredito que irá beneficiar muitos pacientes ainda (como já o vem fazendo).
Apesar de recentes, esses novos tratamentos para o câncer têm se revelado extremamente fascinantes e promissores. Seu uso na prática clínica está se tornando cada vez mais abrangente e certamente irá transformar a maneira como vemos o paciente e sua doença e também a forma como decidimos seu tratamento. É uma nova era no tratamento do câncer que está apenas começando!
A utilização de drogas biológicas é um avanço de extrema relevância na prática clínica, visto que proporciona uma opção de terapia alvo para casos de extrema complexidade, em que outras abordagens convencionais se fazem efetivas da maneira esperada e idealizada. Um exemplo prático disso é a utilização de drogas que atuam no PDL-1 e PD-1 no câncer de pulmão não pequenas celulas, aprovado para primeira linha no tratamento de câncer de pulmão em 2017 (Pembrolizumabe) pela anvisa. Ainda que os resultados obtidos estejam longe do ideal, eles proporcionaram um avanço importantíssimo no que tange a busca pelo tratamento que resulte em cura em casos que hoje são considerados incuráveis. Drogas biológicas ainda não fazem parte da prática clínica usual, sendo inacessível para grande parte dos pacientes, ainda mais no cenário brasileiro. No entanto, vale ressaltar a importância de tais avanços no tratamento de malignidades, revolucionando a maneira como a doença câncer é tratada e enfrentada, buscando quebrar a estigmatização que acompanha a mesma.
É incrível como as células tumorais desenvolvem mecanismos para contornar as nossas defesas imunes. Dá para se relacionar facilmente o desenvolvimento de neoplasias com as ideias darwinianas de seleção natural, em que as células tumorais desenvolvem mecanismo de sobrevivência e resistências melhores do que as nossas próprias células normais. Porém, apesar das células tumorais se acharem muito espertinhas, a ciência tem demonstrado cada vez desenvolver drogas contra as neoplasias. Anticorpos monoclonais tem se apresentado como as respostas terapêuticas para muitos cânceres. Parabéns aos pesquisadores, que além do prêmio e do título, ganham a satisfação de estarem contribuindo para a saúde de milhares de pacientes.
Quando a palavra câncer é pronunciada, ela traz consigo uma série de sentimentos a quem a recebe como diagnóstico. Medo, apreensão, angústia, são só algumas delas; porém, com descobertas como do anticorpo bloqueador do receptor CCLA-4 em 2011, do anticorpo bloqueador de PL-1 em 2014 e de outros tratamentos com drogas biológicas, se está conseguindo resultados surpreendentes, que possibilitam uma boa melhora no prognóstico de doenças, anteriormente, tida como fatais. Esses avanços no campo da saúde, dão esperança para num futuro próximo a tão esperada "cura" de todos cânceres esteja disponível e ,ao que tudo indica, os biológicos são o caminho.
É incrível a capacidade que nosso corpo tem de defender a si mesmo de invasores e de eventuais erros em nossos mecanismos internos de reparação e defesa. É um gigantesco e revolucionário avanço no tratamento do câncer descobrir que podemos tratá-lo simplesmente permitindo que nosso sistema imunológico funcione corretamente. Já que possuímos uma perfeita maquinaria interna de proteção, por que não utilizar esse sistema como tratamento?
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