Tratamento do glioblastoma multiforme recidivado

A difícil escalada ao Everest da oncologia

Buiar, P & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 19(12), 2017

O Glioblastoma Multiforme (GM) é o subtipo mais comum de tumor maligno no sistema nervoso central de adultos e, ironicamente, o mais letal. Após o diagnóstico, a sobrevida mediana é de 14,6 meses. Poucos pacientes atingem sobrevida igual ou superior a 5 anos, a despeito do tratamento combinado incluindo cirurgia, radioterapia e quimioterapia com temozolomida. Há um elevado índice de recidiva e baixa probabilidade de resgate. Várias alternativas terapêuticas foram testadas em estudos de fase II, porém com escasso benefício em sobrevida livre de progressão (SLP) e elevada toxicidade. Adicionalmente, em tumores muito agressivos a SLP não necessariamente antecipa ganho em sobrevida global. Alguns estudos não-controlados apontaram para um potencial benefício no uso de bevacizumab, um anticorpo monoclonal anti-VEGRF (Vascular Endothelial Growth Factor) no tratamento do GM recidivado, talvez como consequência da redução no uso de glicocorticoide.  

Em novembro de 2017, o New England Journal of Medicine publica um estudo conduzido pela European Organization for Research and Treatment of Cancer (EORTC), liderado pela Universidade de Heidelberg na Alemanha, visando analisar o impacto da associação de bevacizumab com lomustina no tratamento do GM recidivado. Consistiu em um estudo prospectivo aleatório de fase III comparando a associação de lomustina + bevacizumab versus lomustina isolado. Foram recrutados 437 pacientes e a análise conduzida após 329 óbitos (75,3% do n). Apesar de um ganho SLP favorável ao uso do tratamento combinado (HR = 0,49 e p<0.001), conseguido às custas de aumento de toxicidade graus 3-5, não houve diferença significativa na sobrevida global (p = 0.65). O estudo contraria a associação de bevacizumab com a lomustina no tratamento do GM recidivado. Não se escala o Everest sem adequado conhecimento de suas bases. Felizmente, estudos recentes vem desvendando o comportamento biológico do GM. A hipermetilação da 06-metilguanina DNA metiltransferase (MGMT) remete para sobrevida prolongada. Um recente perfil genômico integrado por 43 genes permite desenvolver um fingerprint que discrimina fenótipos de sobrevida variável. 


Referência:

Wick, W; Gorlia, T; Bendszus, M; et al: Lomustine and Bevacizumab in Progressive Glioblastoma, N Engl J Med 377: 1954 – 63, 2017