Como evitar a quimioterapia no tratamento curativo do câncer de mama com assinatura genética favorável
Fleck, J.F.: Conexão Anticâncer, 7(7):2015
Recentemente, foi publicado no International Journal of Cancer o estudo observacional denominado RASTER. Trata-se de um estudo retrospectivo liderado pelo Netherlands Cancer Institute avaliando o papel preditivo da assinatura genética (MammaPrintTM) quanto ao risco de desenvolvimento de doença metastática no câncer de mama com axila negativa (No).
Atualmente, o critério clínico mais utilizado para a indicação da quimioterapia adjuvante no tratamento curativo do câncer de mama é o Adjuvant Online (AOL). Utilizando os critérios do AOL considera-se de alto risco todas as pacientes com câncer de mama cuja probabilidade de sobrevida em 10 anos seja inferior a 90%.
Utilizando MammaPrintTM, o estudo RASTER classificou as pacientes com câncer de mama em assinatura genética de baixo risco (sobrevida livre de progressão em 5 anos de 97%) e alto risco (sobrevida livre de progressão em 5 anos de 91.7%). O aspecto mais impactante do estudo foi a observação de que 76% mulheres com câncer de mama classificadas como AOL alto risco e assinatura genética de baixo risco não receberam quimioterapia e alcançaram uma sobrevida livre de progressão em 5 anos de 98.4%. A conclusão é de que a utilização rotineira da assinatura genética no câncer de mama axila negativa poderia reduzir a indicação de quimioterapia adjuvante em 32% das pacientes classificadas como de alto risco por critérios puramente clínicos (AOL).
Os resultados definitivos de um estudo prospectivo denominado MINDACT poderá esclarecer melhor a importância da assinatura genética no câncer de mama, especialmente quando ocorre a discordância entre critérios prognósticos clínicos (AOL) e genéticos (MammaPrintTM).
Referências:
1. C.A. Drukker, J.M. Bueno-de-Mesquita, V.P. Rete`l, W.H. van Harten, et.al.: A prospective evaluation of a breast cancer prognosis signature in the observational RASTER study, Int. J. Cancer, 133: 929–936 , 2013
2. Emile Rutgers, Martine J. Piccart-Gebhart, Jan Bogaerts, et al.: The EORTC 10041/BIG 03-04 MINDACT trial is feasible: Results of the pilot phase, European Journal of Cancer, 47(8): 2742-2749, 2011
A assinatura genética tumoral é uma novo parâmetro para indicação de tratamento e definição de prognóstico para diferentes grupos de neoplasias. Esse avanço permite a introdução da terapia personalizada, capaz de promover resultados mais satisfatórios e eficazes, reduzindo a indicação de tratamentos desnecessários e agressivos que impactam na saúde física e psicológica dos pacientes. Como no câncer de mama, a identificação de pacientes com prognóstico favorável põe em dúvida os benefícios da quimioterapia adjuvante nesses casos. Esse avanço nos mostra que quanto mais conhecemos a patologia, mais preparados estaremos para fornecer o melhor atendimento e tratamento em termos de saúde.
O inimigo interno, denominação essa encontrada na primeira simulação clínica do livro Conexão Anticâncer, é um termo utilizado pela personagem Ruth para se referi a sua doença, um tipo de câncer de mama. Assim, por meio disso Ruth busca o entendimento de sua doença, o que faz questionando o seu médico oncologista, que por sua vez apresenta uma explicação que a permite o entendimento sobre quem é o seu inimigo interno. Dessa forma, a assinatura genética surge como um meio de conhecermos ainda mais quem são os inimigos internos dos pacientes oncológicos e, por conseguinte, auxiliar o direcionamento de qual tipo de tratamento é mais indicado para aquele paciente possibilitando assim um melhor prognóstico, como o aumento da sobrevida.
Sempre quando é feito um diagnóstico de câncer, o paciente acaba tendo que lidar com várias angústia diferentes, que refletem muito suas concepções subjetivas sobre o quadro; contudo, creio que duas "angústias" se façam presentes na maior parte dos casos: a primeira é aquela em que o paciente se questiona sobre como a doença irá evoluir caso não seja realizada nenhuma intervenção; e a segunda seria de que forma as intervenções irão alterar o curso da doença e, principalmente o seu "curso" de vida. Os tratamentos mais utilizados, como a quimioterapia citotóxica, por vezes, causam efeitos adversos importantíssimos e que pesam muito na decisão do paciente de seguir ou não determinada terapêutica. Assim, com o surgimento dessa nova tecnologia, mesmo que com suas falhas, que permite em vários casos a definição da assinatura genética do tumor e, a partir disso, uma decisão mais personalizada ao quadro da paciente sobre qual terapia seguir, se consegue, em muitos casos, evitar a exposição dos pacientes a tratamentos que não lhe trariam, ao final de contas, mais benefícios do que malefícios ao longo do curso de tratamento. Apesar de os tumores poderem apresentar em suas porções assinaturas genéticas distintas, a possibilidade que essa tecnologia trouxe de podermos adereçar um determinado tratamento de forma mais específica a essas células tumorais é um grande avanço, afinal, a partir disso, consegue-se alcançar um manejo mais efetivo, bem como minimizar os danos colaterais, promovendo, ao final das contas, inclusive, melhor adesão ao tratamento, o que é fundamental para a melhora do prognóstico.
É importante conhecermos cada vez mais a fisiopatologia dos tumores para otimizarmos o tratamento cada vez mais causando o menor dano possível. Atualmente, infelizmente, o próprio tratamento, pode acabar provocando a piora do paciente por conta de seus efeitos colaterais devastadores. Terapias-alvo são mais efetivas e menos danosas. Certamente, a distinção de diferentes tipos celulares dentro de um tumor é um grande desafio, contudo, a medicina vem avançando cada vez mais nesse sentido.
A característica de expressão gênica vinculada à genômica tumoral é um dos campos mais promissores da medicina atual e futura, servindo como a base teórica para a instituição de tratamentos, elaboração de condutas e caracterização de prognósticos que resultam na tão falada e esperada medicina personalizada. Tais pressupostos de medicina personalizada, baseados em testes como o MammaPrint, podem e devem ser extrapolados, num tempo recente, para outras áreas da medicina além da Oncologia, implicando medicina de precisão, isto é, maiores efeitos terapêuticos e menos efeitos adversos pensados com base em padrões individuais específicos.
A identificação da assinatura genética tumoral representa um avanço significativo no tratamento personalizado do câncer, capaz de produzir resultados mais efetivos e com menos danos colaterais aos pacientes. Por exemplo, ao identificar com maior precisão pacientes com prognóstico favorável, é possível evitar a administração desnecessária de quimioterapia adjuvante e seus efeitos adversos. Ademais, compreender o perfil genômico dos tumores auxilia os pacientes a entender melhor a doença e a tomar decisões informadas sobre o tratamento. Nesse sentido, a medicina personalizada com base na genética tumoral é uma área em desenvolvimento que pode ser ampliada para outras áreas da medicina, permitindo melhores efeitos terapêuticos e menores efeitos adversos com base nas idiossincrasias dos pacientes e das suas doenças. Essa otimização do tratamento é fundamental para incentivar uma melhor adesão ao tratamento, alcançar prognósticos mais favoráveis e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
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