Simulação clínica e tomada de decisão compartilhada

Praticando a medicina integrativa multidimensional

James Fleck, MD, PhD: Conexão Anticâncer 23 (02), 2022


Uma das melhores maneiras de ensinar os profissionais de saúde e estender o conhecimento médico aos pacientes e familiares é por meio de simulações clínicas. São histórias que refletem o mundo real e revelam a medicina em sua abordagem multidimensional. A trama facilita a compreensão dos componentes físicos, emocionais, cognitivos e sociais no enfrentamento da doença. O paciente é sempre o protagonista e o médico é quem conta a história. Assumindo o papel de ator coadjuvante, o médico sustenta a racionalidade das intervenções propostas. As simulações clínicas representam a melhor forma de abordagem cognitiva do paciente, condição essencial para obter o consentimento informado e praticar a tomada de decisão compartilhada.

Os estudantes de medicina compartilham o cotidiano do personagem médico ao enfrentar um conjunto de desafios impostos pela relação médico-paciente, vivenciando dilemas técnicos, éticos e emocionais. Ao ler uma simulação clínica, o estudante de medicina naturalmente busca uma identificação com o médico fictício. Essa escolha subjetiva reforça sua vocação profissional e remete para a importância prática da empatia, traduzida em um equilíbrio harmônico entre sensibilidade e raciocínio. Gradualmente, o aluno passa a compreender a empatia como atributo cognitivo e a exercita na atividade cotidiana do personagem médico. Os pacientes geralmente usam valores humanos para ajudá-los a lidar com a doença. O aluno aprende como os pacientes usam valores humanos específicos para ajudar também no seu relacionamento com o médico. O médico fictício está sempre sensível ao fluxo emocional do paciente, identificando o valor humano âncora capaz de sustentar e orientar o cuidado do paciente. As simulações descrevem o padrão de expressão clínica dos tumores malignos mais frequentes. O estudante de medicina reconhece rapidamente uma dimensão múltipla na apresentação clínica das doenças, o que dá suporte ao desenvolvimento e uso de algoritmos diagnósticos e terapêuticos. A oncogênese lembra a natureza, revelando autossimilaridade. Existem padrões gerais e repetitivos de expressão clínica para cada tumor primário, seguidos por subclasses bem definidas, apoiadas por métodos de imagem e métodos laboratoriais em sua expressão microscópica e molecular. O conhecimento da relação precisa entre características macro e microambientais da doença é explorada em cada simulação clínica, promovendo no aluno um sentimento gradual de proficiência no exercício da medicina. As simulações clínicas fortalecem a autoconfiança. Cada simulação mostra claramente que o diagnóstico preciso e as recomendações bem-sucedidas são uma consequência natural de uma prática persistente e bem sustentada. No entanto, o aluno logo reconhece que identificar o fenótipo do tumor não é o desafio mais difícil. Muito mais complexo é fazer recomendações de acordo com a condição psicológica e social vivenciada pelo paciente. Aqui, a medicina se torna arte. A sensibilidade é um atributo não cognitivo e representa o principal pano de fundo para o sucesso da prática médica. Os alunos encontram na simulação clínica uma oportunidade para refletir sobre seu próprio nível de sensibilidade e são incentivados a exercitar esse atributo na prática diária e bem-sucedida da medicina. As simulações clínicas proporcionam uma experiência antecipada do que acontecerá no mundo real, preparando melhor os estudantes de medicina para os desafios esperados na relação médico-paciente.

Pacientes e familiares também se beneficiam da simulação clínica. Após serem informados do diagnóstico, podem selecionar a história mais adequada, escolhendo entre a localização primária do tumor ou a identificação com um valor humano âncora especificamente utilizado pelo protagonista para conduzir a relação médico-paciente. A escolha centrada no tumor primário refere-se a uma intervenção cognitiva. O paciente aprende a expressão clínica da doença, os estágios sequenciais do diagnóstico e as opções terapêuticas. A opção por um valor âncora específico refere-se a uma intervenção subliminar, fortalecendo o paciente para o adequado enfrentamento emocional da doença. Cada paciente precisa de um tempo específico para assumir o diagnóstico do câncer. No entanto, a urgência das recomendações oncológicas encontra nas simulações clínicas uma ferramenta valiosa para uma mais rápida compreensão da doença. A intervenção subliminar também ajuda o paciente nos pontos de virada (turning points). São momentos muito especiais em que o paciente deixa de lastimar e passa a colaborar com o médico na resolução efetiva do problema.

As simulações clínicas também são ferramentas valiosas para criar inteligência coletiva. Você pode participar ativamente dessa jornada. Navegue pelas simulações clínicas publicadas e comente sobre sua utilidade na prática médica. Você pode encontrar várias simulações clínicas em www.conexaoanticancer.com.br clicando no índice livro mostrada no menu.

 

Referências:

1.     Conexão Anticâncer Link: https://conexaoanticancer.com.br/livros