Uso da quimioterapia em carcinoma epitelial avançado de ovário, trompa de Falópio e primário peritoneal

No limite de rendimento do método, um espaço consolidado para a dose densa no oriente

Cardoso, PN & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 10(07), 2018

O carcinoma epitelial do ovário, da trompa de Falópio e primário peritoneal (COTP) têm comportamento biológico semelhante, o que permite incluí-los dentro de um mesmo racional terapêutico. Infelizmente, são neoplasias de diagnóstico tardio (75% sendo detectados nos estádios III e IV) e representam a principal causa de morte por câncer ginecológico nos EUA. O manejo preferencial envolve cirurgia citorredutora seguida de quimioterapia sistêmica, especialmente com doença residual ≥ 1 cm. Até a virada do século XX, o protocolo convencional consistia na infusão de carboplatin AUC 6 + paclitaxel180 mg/m2 ambos no dia 1 em 6 ciclos de três semanas. As pacientes apresentavam um bom índice de resposta objetiva, porém persistiam com um risco de recidiva que se estendia até 60 meses após o tratamento. Em 2003 o Japanese Gynecology Oncology Group (JGOG ) inicia a inclusão de pacientes no estudo JGOG 3016 que distribui pacientes com COTP avançado para um braço com a quimioterapia infusional convencional versus quimioterapia infusional de dose densa (carboplatin AUC 6 D1 + paclitaxel 80 mg/m2 D1, D8 e D15). Um artigo publicado no Lancet Oncology em 2013 mostra os resultados maduros em análise post-hoc do JGOG 3016. Observou-se a manutenção de benefícios significativos em sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG) favorável a utilização da dose densa como novo standard de tratamento. Em contrapartida, houve um acréscimo de toxicidade com consequente redução na intensidade de dose proposta. O estudo foi composto por uma população exclusivamente oriental, o que dificulta a extrapolação de dados para o ocidente. O estudo GOG 218 mostrou que as pacientes orientais com carcinoma avançado de ovário têm maior sobrevida global quando ajustada a fatores prognósticos, em comparação com pacientes brancas ocidentais não-hispânicas. Adicionalmente, no estudo JGOG 3016, 50% da amostra foi composta por pacientes submetidas a cirurgia citorredutora ótima (doença residual ≤ 1 cm), situação no ocidente normalmente tratada com a associação de quimioterapia intraperitoneal. Estudos realizados no ocidente (GOG 262 MITO-7 Trial) não foram capazes de evidenciar benefício consistente atribuído a quimioterapia de dose densa. Atualmente, vários aspectos étnicos, biológicos e ambientais ainda precisam ser esclarecidos em uma doença com expressão clínica e morfológica universal, porém com resposta heterogênea às intervenções terapêuticas.

 

Referência:

Noriyuki Katsumata, Makoto Yasuda, Seiji Isonishi, et al: Long-term results of dose-dense paclitaxel and carboplatin versus conventional paclitaxel and carboplatin for treatment of advanced epithelial ovarian, fallopian tube, or primary peritoneal cancer (JGOG 3016): a randomized, controlled, open-label trial, Lancet Oncol 14: 1020–26, 2013