Tratamento Hormonal do Cancer de Mama

A toxicidade da quimioterapia pré-operatória em pacientes com câncer de mama sensíveis a tratamento hormonal (RE+) pode ser evitada    

Fleck, JF: Conexão Anticancer 17(01), 2017

A forma mais frequente de expressão clínica do cancer de mama tem como causa associada o hormônio feminino (estrógeno) e é caracterizada pela expressão imuno-histoquímica do receptor estrogênico (RE+). Neste grupo específico de pacientes, vários estudos já demonstraram o benefício do tratamento sistêmico com hormonioterapia adjuvante (HTA), ou seja, realizada depois da cirurgia. Este tratamento pode ser feito reduzindo a concentração de estrógeno circulante (inibidores da aromatase em pacientes pós-menopausa ou agonistas LHRH produzindo castração química na pré-menopausa). Uma abordagem alternativa consiste na ação direta sobre o receptor de estrógeno (RE), modulando sua expressão com tamoxifeno ou degradando o RE com fulvestranto. O tratamento hormonal do cancer de mama pode também ser feito antes da cirurgia, com uma estratégia denominada hormonioterapia neoadjuvante (HTNA), visando reduzir o tamanho do tumor para proporcionar tratamento cirúrgico conservador, mesmo em situações localmente avançadas.

Em uma recente publicação na revista JAMA Oncology de autoria da Dra. Spring e coautores, suportada pelo National Cancer Institute dos Estados Unidos da América foi feita uma revisão sistemática e metanálise de estudos clínicos prospectivos e aleatórios que exploraram a utilização do tratamento hormonal em um cenário neoadjuvante. Foram analisados 20 estudos, computando um total de 3490 pacientes. A HTNA com inibidores da aromatase promoveu o mesmo índice de resposta clínica, resposta radiológica e conservação da mama obtidos com a quimioterapia neoadjuvante (QTNA), porém com menor toxicidade. Os resultados da HTNA foram significativamente melhores com inibidores da aromatase do que aqueles obtidos com o tamoxifeno. O estudo também revelou que a associação de HTNA com novas drogas (inibidores da sinalização de transdução de fatores de crescimento) resultaram em maior índice de resposta radiológica, mas sem a correspondente repercussão clínica.

O estudo da Dra. Spring remete para a possibilidade de substituir a QTNA pela HTNA com resultados semelhantes, porém com menor toxicidade, especialmente na população de pacientes com cancer de mama RE+ em pós-menopausa. A estratégia de uso do mesmo racional terapêutico no cenário do cancer de mama RE+ em pré-menopausa pode ser contemplada, especialmente se acompanhada de avaliação de expressão de um marcador proliferativo (Ki67). Sempre que durante a HTNA uma biópsia mostrar Ki67 acima de 10%, o tratamento deverá ser convertido para QTNA.  

 

Referência:

Spring, LM; Gupta, A; Reynolds, KL, et al: Neoadjuvant Endocrine Therapy for Estrogen Receptor-Positive Breast Cancer A Systematic Review and Meta-analysis, JAMA Oncology 2(11): 1477 – 1486, 2016.