Tratamento do Câncer de Reto

Estudos apontam para uma possível vantagem no uso do tratamento combinado com quimioterapia e radioterapia no pré-operatório

Basso, J; Fleck, JF: Conexão Anticâncer 04 (04), 2017

O câncer de cólon e reto representa cerca de 10% das neoplasias malignas e está associado a um razoável índice de curabilidade geral (65% de sobrevida global em cinco anos). O câncer de reto é mais frequente no sexo masculino, sendo o tratamento cirúrgico potencialmente mutilante, especialmente em situação de doença localmente avançada. Esforços internacionais de integração terapêutica tem sido feitos no sentido de proporcionar cirurgia de conservação esfincteriana e até mesmo preservação do órgão.

O tratamento do câncer retal localmente avançado inclui quimioterapia e radioterapia direcionada à pelve, com o intuito de reduzir a recidiva local e aumentar a sobrevida global. Esta estratégia, aplicada de forma pós-operatória, representou o tratamento padrão na década de noventa. No entanto, estudos subsequentes posicionaram a radioterapia no pré operatório, visando melhor controle local e cirurgias menos invasivas.

Um estudo publicado no New England Journal of Medicine comparou quimio-radioterapia (QR) pré-operatória, versus QR pós-operatória no tratamento do câncer retal localmente avançado. Foram pré randomizados 823 pacientes em dois grupos. Os paciente poderiam concordar em serem alocados no seu grupo ou optar pela troca. O tratamento envolvia 28 frações de radioterapia, em cinco sessões semanais, concomitante com infusão contínua de fluorouracil por 5 dias consecutivos, na primeira e quinta semanas da radioterapia. Adicionalmente eram prescritos 4 ciclos de quimioterapia após completado o tratamento locoregional. O desfecho principal a ser avaliado era a sobrevida global. O resultado não demonstrou aumento na sobrevida. No entanto, houve uma menor taxa de recorrência local no grupo de tratamento pré-operatório, com uma incidência acumulada em 5 anos de 6% contra 13% de recidiva no grupo com tratamento pós-operatório. Além disso, o grupo que recebeu QR pré-operatória foi melhor tolerado, apresentando uma maior taxa de cirurgia de preservação esfincteriana e menor incidência de colostomias definitivas.

Estes resultados tem conduzido a uma tendência favorável ao tratamento com QR pré-operatório no cancer avançado do reto. Hoje, busca-se intensificar a quimioterapia neste contexto, visando oferecer melhor controle sistêmico e aumento da sobrevida global. Outra tendência atual é a busca por tratamentos, ainda, menos invasivos. Possivelmente, alguns casos selecionados com resposta completa à QR pré-operatória poderão dispensar a cirurgia. Esta estratégia está fundamentada em pesquisas brasileiras. Esta prática, ainda com nível de evidência baixo deve restringir-se a estudos clínicos contemplando resultados de não-inferioridade e melhora na qualidade de vida dos pacientes.

 

Referências

 

Sauer, R; Becker, H; Hohenberger, W; et al.: Preoperative versus Postoperative Chemoradiotherapy for Rectal Cancer. New England Journal of Medicine, October 21th, 2004

Habr-Gama, A; Gama-Rodrigues, J; São Julião, GP: Local recurrence after complete clinical response and watch and wait in rectal cancer after neoadjuvant chemo-radiation: impact of salvage therapy on local disease control, Int J Radiat Oncol Biol Phys February 1st, 2014