Tratamento de metástases ósseas

O zoledronato pode ser administrado com intervalos maiores na prevenção de complicações da metastatização óssea no câncer de mama, câncer de próstata e mieloma múltiplo

Fleck, J.F. & Koech, B.L.: Conexão Anticâncer 21(02), 2017

O ácido zoledrônico ou zoledronato, é um bifosfonato de terceira geração usado na redução da dor, fratura patológica e hipercalcemia associadas a metastatização óssea em câncer de mama, câncer de próstata e mieloma múltiplo. A redução destes eventos ósseos ocorre em um percentual varável de 25% a 40%. Os benefícios costumam compensar com vantagem efeitos adversos como osteonecrose de mandíbula e disfunção renal. No entanto, a gravidade destas complicações sustenta a busca de programas de tratamento com melhor índice terapêutico.

Em janeiro de 2017, foi publicado um estudo na revista JAMA que suporta o uso de zoledronato com intervalo ampliado para cada 12 semanas na prevenção de complicações associadas a metastatização óssea em câncer de mama, câncer de próstata e mieloma múltiplo. Um grupo de investigadores liderados pelo Dr. Andrew L. Himelstein, oncologista clínico no Helen F. Graham Cancer Center & Research Institute, desenhou um estudo aberto, multicêntrico, aleatório, de fase III para avaliar a equivalência de zoledronato administrado a cada 12 semanas com zoledronato administrado na dose padrão a cada 4 semanas. O desfecho primário foi o percentual de pacientes com pelo menos um evento ósseo no período de dois anos de acompanhamento. Os eventos ósseos incluíram fraturas, compressão medular, radioterapia ou cirurgia ortopédica. Foram observados eventos ósseos em 28,6% dos pacientes tratados com zoledronato a cada 12 semanas contra 29,5% de eventos ósseos nos pacientes do braço controle (zoledronato a cada 4 semanas). Estes resultados suportaram a utilização de zoledronato com menor frequência na prevenção de eventos ósseos. A adesão ao esquema de tratamento foi melhor entre os pacientes que receberam o fármaco a cada 12 semanas. Apesar de ser um estudo multicêntrico incluindo 1822 pacientes, a limitação do número de eventos ósseos em dois anos de acompanhamento não permitiu identificar diferença significativa nos escores de dor e desempenho, incidência de osteonecrose da mandíbula e disfunção renal. Idealmente, a equivalência do desfecho primário (eventos ósseos) entre os dois regimes de zoledronato deveria ser acompanhada de menor incidência em efeitos adversos. A osteonecrose de mandíbula ocorreu em 9 pacientes no grupo tratado com zoledronato a cada 12 semanas (1%) versus 18 pacientes no grupo controle (2%) tratados com zoledronato a cada 4 semanas. Disfunção renal graus 3 e 4, ocorreram em 4 pacientes (0,5%) no grupo tratado com intervalo ampliado versus 10 pacientes (1,2%) no regime com administração de zoledronato mais frequente. Embora em números absolutos as gradezas impressionem, o tamanho da amostra limitou a identificação de significância. Apesar de suas limitações, o estudo mostra a não-inferioridade do esquema zoledronato a cada 12 semanas na redução de eventos ósseos de pacientes com metastatização óssea associada ao câncer de mama, câncer de próstata e mieloma múltiplo, com  consequente redução de custos, sem afetar a qualidade de vida dos pacientes.

Referência:

Himelstein, A.L.; Foster, J.C.; Khatcheressian J.L., et al: Effect of Longer-Interval vs Standard Dosing of Zoledronic Acid on Skeletal Events in Patients with Bone Metastases: A Randomized Clinical Trial, JAMA 317(1): 48-58, 2017