Tratamento de 2ª linha do câncer de próstata refratário a castração

Ganho na sobrevida livre de progressão

Fleck, JF & Cardoso, P: Conexão Anticâncer 16(10), 2018

O câncer de próstata é a neoplasia maligna mais frequente na população masculina e a segunda causa de morte por câncer nos EUA. O diagnóstico precoce está associado a um alto índice de curabilidade, porém alguns pacientes progridem para recidiva bioquímica após tratamento local com cirurgia ou radioterapia, enquanto outros já abrem o quadro como doença metastática. Tanto na recidiva bioquímica como na doença metastática há uma resposta favorável à terapia de privação androgênica. No entanto, em um período variável de tempo, a quase totalidade dos pacientes tornam-se hormônio-refratários, sendo potencialmente elegíveis para quimioterapia de primeira linha constituída por docetaxel + prednisona. Até o ano de 2010, não havia a definição quanto ao benefício de um tratamento em segunda linha, após progressão ao docetaxel. Estudos pré-clínicos conduzidos ao longo de uma década permitiram identificar uma nova droga (cabazitaxel), que apesar de compartilhar com o docetaxel seu mecanismo de ação, bloqueando a divisão celular por ligação à tubulina, não apresentava com o mesmo, resistência cruzada. Abria-se a perspectiva de um ganho adicional em tempo de sobrevida neste jogo sequencial marcado pela queda de dominós.  

Em outubro de 2010, a revista Lancet publica um estudo aleatório de fase III, incluindo pacientes com câncer de próstata refratários ao tratamento de castração e que apresentaram doença progressiva após quimioterapia de primeira linha com docetaxel. Embora não houvesse, na ocasião e para este cenário, um tratamento standard aprovado pelo FDA, muitos pacientes, rotineiramente, recebiam mitoxantrona, visando uma possível melhora na qualidade de vida. O estudo comparou na segunda linha de intervenção com quimioterapia, um braço teste composto por cabazitaxel + prednisona versus um braço controle composto por mitoxantrona + prednisona. Um total de 755 pacientes foram distribuídos aleatoriamente na proporção de 1:1 para os dois braços de intervenção e estratificados pelo desempenho (ECOG) + existência de parâmetros mensuráveis de avaliação. O desfecho primário foi sobrevida global (SG), ficando a sobrevida livre de progressão (SLP) e análise de segurança como desfechos secundários. A mediana de SG foi de 15,1 meses no grupo cabazitaxel e 12,7 meses no grupo mitoxantrona, conferindo um HR de 0,70 (IC 95% 0,59 – 0,83 p<0,0001). A mediana da SLP foi de 2,8 meses no grupo cabazitaxel e de 1,4 meses no grupo mitoxantrona, com um HR 0,74 (IC 95% 0,64-0,86 p <0,0001). Os eventos adversos de grau ≥ 3 foram neutropenia em 82% dos pacientes tratados com cabazitaxel versus 58% dos pacientes tratados com mitoxantrona, sendo que neutropenia febril ocorreu em 8% dos pacientes tratados com cabazitaxel contra 1% desta complicação observada no grupo mitoxantrona.  

A mensagem continua sendo a progressiva cronificação de neoplasias metastáticas. Mesmo em um cenário adverso de câncer de próstata metastático hormônio-refratário e resistente a primeira linha de intervenção com quimioterapia, surge uma oportunidade de ganho real em SG, mais uma vez interrompendo o jogo da queda sequencial de dominós.


Referência:

Johann Sebastian de Bono, Stephane Oudard, Mustafa Ozguroglu, et al: Prednisone plus cabazitaxel or mitoxantrone for metastatic castration-resistant prostate cancer progressing after docetaxel treatment: a randomized open-label trial, Lancet376: 1147 – 54, 2010