Tratamento adjuvante do carcinoma brônquico não de pequenas células com base em cisplatina: The LACE Collaborative Group

Um esforço obstinado e sequencial na mudança de um cenário hostil

Brondani, G & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 16(04), 2018

O câncer de pulmão lidera a incidência e a mortalidade por tumores malignos. O carcinoma brônquico não de pequenas células (CBNPC) corresponde a 80% dos casos diagnosticados. Após adequado estadiamento, incluindo PET-CT, somente 20% dos pacientes diagnosticados com CBNPC são passíveis de tratamento cirúrgico, constituindo-se no principal fator preditivo de um melhor prognóstico. A falha no diagnóstico precoce e a consequente irressecabilidade e/ou inoperabilidade são responsáveis pelo decepcionante índice de 15% na curabilidade geral do CBNPC. Um dado promissor surgiu em 2011 com a publicação no New England Journal of Medicine dos resultados do National Lung Screening Trial revelando redução relativa de 20% no risco de morte por cancer de pulmão com o uso de TC helicoidal de baixa dose. Outro dado promissor foi a ratificação pelo LACE Collaborative Group do benefício no uso de quimioterapia adjuvante baseada em cisplatina em pacientes com CBNPC estádios IB, II e III.

O LACE Collaborative Group permitiu analisar o impacto da quimioterapia adjuvante baseada em cisplatina em um pool de estudos conduzidos após 1995, reunindo cerca de 4500 pacientes com CBNPC Ro. Foram observados uma redução no risco relativo de óbito de 11% e um benefício absoluto de 5,4% na sobrevida em 5 anos, favoráveis a quimioterapia adjuvante. São benefícios pequenos ao serem comparados com a adjuvância em outros cenários (cólon e mama), porém com um nível de evidência fortalecido por uma metanálise com baixa heterogeneidade (I2 = 6%). A dimensão do benefício foi também limitada pelo maior número de óbitos não relacionados ao CBNPC nos primeiros seis meses pós-adjuvância. Houve uma tendência ao melhor desfecho com o uso do doublet cisplatina – vinorelbina, talvez motivada por uma maior dose acumulativa de cisplatina (> 300 mg/m2) obtida nesta combinação. Houve interação significativa entre o benefício da adjuvância e o performance status, podendo ser prejudicial em pacientes PS2. Excluindo-se um número minoritário de pacientes com CBNPC - estádio IA, observou-se um benefício similar da quimioterapia adjuvante baseada em cisplatina em todos os demais estádios incluídos na metanálise.

Os resultados somatórios da prevenção secundária associados ao tratamento adjuvante baseado em cisplatina do CBNPC-Ro configuram um esforço obstinado e sequencial na mudança de um cenário hostil. Avanços na classificação molecular do CBNPC e uso potencial de TKIs ou imunoterapia em adjuvância poderão agregar valor no ainda inaceitável índice de durabilidade geral.

 

Referências:

Jean-Pierre Pignon, Hélène Tribodet, Giorgio V. Scagliotti, et al: Lung Adjuvant Cisplatin Evaluation: A Pooled Analysis by the LACE Collaborative Group, J Clin Oncol 26:3552-3559, 2008

The National Lung Screening Trial Research Team: Reduced Lung-Cancer Mortality with Low-Dose Computed Tomographic Screening, N Engl J Med 365:395-409, 2011