Exercício e Câncer

O exercício aeróbico na prevenção e tratamento do câncer    

Fleck, J.F.: Conexão Anticâncer, 03(02): 2016


Médicos e pesquisadores de três centros norte-americanos (Weill Cornell Medical College, Memorial Sloan Kettering Cancer Center e New York University Langone Medical Center) fazem uma revisão abrangente e sugerem hipóteses bem fundamentadas sobre a influência do exercício aeróbico na prevenção e tratamento do câncer. O artigo publicado na revista Oncology em dezembro de 2015 discute a interferência do exercício nos processos inflamatórios crônicos e na vigilância imunológica, ambos envolvidos na iniciação e progressão do câncer.

O artigo sugere uma interferência protetora do exercício em três níveis:

 I – Inflamação Crônica: O estado inflamatório crônico observado na obesidade e na infeção por alguns agentes virais e bacterianos está associado a transformação celular maligna. Os estudos revelam resultados contraditórios, ainda não permitindo conclusões definitivas sobre a relação do exercício aeróbico com efetores inflamatórios. Estudos prospectivos bem desenhados são necessários para monitorar a modificação na expressão de citocinas inflamatórias mediada pelo exercício e seu eventual impacto na redução da oncogênese.

 II- Vigilância Imunológica: O exercício pode estar associado com o aumento no número e na atividade de células da defesa imunológica inata denominadas Natural Killers (NK). Tratam-se de linfócitos capazes de reconhecer células com transformação maligna e eliminá-las, impedindo a progressão do tumor.

 III- Progressão Tumoral: O câncer torna-se clinicamente detectável quando a imunidade inata ou adaptativa deixa de reconhecer as células tumorais. Na convivência com o sistema imunológico, as células do câncer revelam uma progressiva perda da imunogenicidade, dificultando seu reconhecimento e eliminação. Felizmente, nem sempre este processo é irreversível. No tratamento do tumor com quimioterapia ou radioterapia ocorre ruptura celular e liberação de novos antígenos tumorais, reativando a imunidade. Células chamadas dendríticas reconhecem os novos antígenos e os apresentam para os linfócitos T, gerando uma nova resposta imunológica. Recentemente, o tratamento do câncer com bloqueadores de checkpoints imunológicos (Anti-CTLA4 e Anti-PD1) também permitiu restaurar a defesa imunológica perdida. O exercício vem sendo considerado como adjuvante terapêutico e poderá ser testado neste novo cenário.

 

Referência:

Graeme J. Koelwyn, Erik Wennerberg, Sandra Demaria, Lee W. Jones: Exercise in Regulation of Inflammation-Immune Axis Function in Cancer Initiation and Progression, Oncology (December): 908 – 920, 2015