Combinação de esforços terapêuticos melhora o prognóstico do câncer de esôfago e junção esofagogástrica (JEG)

Resultados maduros do tratamento neoadjuvante do câncer de esôfago e JEG    

Basso, J & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 09(05), 2017

O cancer de esôfago é atualmente o oitavo tumor mais frequente no mundo, ocasionando mais de 400.000 mortes/ano e prejudicando muito a qualidade de vida dos pacientes. Sob a ótica da histogênese, compreende duas doenças distintas: o adenocarcinoma e o carcinoma escamoso. A primeira mais relacionada ao refluxo gastro-esofágico, e a segunda tendo o tabagismo e o etilismo como seus principais fatores de risco. Ambas tem seu prognóstico determinado pela extensão da doença.

Em estádio inicial a base do tratamento foi historicamente representada pela cirurgia Ro (ressecção completa com margens microscópicas livres) associada a dissecção linfonodal. Ao longo do tempo também consolidou-se o papel da quimioterapia e radioterapia no tratamento da doença localmente avançada e irressecável, produzindo alta taxa de resposta e, em alguns casos, sobrevida prolongada. A composição destes desfechos conduziu a racionalidade para o uso pré-operatório da quimioterapia e radioterapia (neoadjuvância). Surgiu o  CROSS Trial (ChemoRadiotherapy for Oesophageal cancer followed by Surgery Study), cujos resultados foram publicado em 2012 no New England Journal of Medicine. Dados maduros do CROSS Trial, com seguimento mínimo de 5 anos foram em sequência publicados no Lancet Oncology em agosto de 2015.

O estudo distribuiu aleatoriamente 366 paciente com neoplasia ressecável de esófago e JEG (T1N1Mo ou T2-3N0-1Mo) em dois grupos. O grupo I recebia quimioterapia (carboplatina AUC 2 + paclitaxel 50 mg/m2 em cinco ciclos semanais) concomitante com radioterapia (41.4 Gy em 23 frações de 1.8 Gy 5x/sem por 5 semanas). Após 4-6 semanas do término do tratamento combinado, os paciente do grupo I eram encaminhados a cirurgia. O grupo controle (grupo II) era tratado com cirurgia exclusiva. O desfecho primário foi a sobrevida global. Os resultados mostraram o benefício da neoadjuvância com sobrevida mediana de 49,4 meses no  grupo I versus 24 meses no grupo controle (grupo II tratado exclusivamente com cirurgia) . A toxicidade do tratamento foi bem aceitável, sem aumento de complicações operatórias e com a grande maioria dos pacientes conseguindo completar a dose total planejada.

Os resultados desse estudo demonstram o benefício da associação de esforços, combinando três recursos terapêuticos e mudando a história natural do câncer de esôfago e JEG em seus estádios iniciais.

 

 

Referências:

 

P. Van Hagen, M.C.C.M. Hulshof, J.J.B. van Lanschot, et al: Preoperative Chemoradiotherapy for Esophageal or Junctional Cancer, N Engl J Med 366:2074-84, 2012

Joel Shapiro, J Jan B van Lanschot, Maarten C C M Hulshof, Pieter van Hagen, et al: Neoadjuvant chemoradiotherapy plus surgery versus surgery alone for oesophageal or junctional cancer (CROSS): long-term results of a randomised controlled trial, Lancet Oncol, August 6, 2015 http://dx.doi.org/10.1016/ S1470-2045 (15)00040-6