Câncer e imortalidade estão ironicamente relacionados

Prêmio Nobel de Medicina atribuído a pesquisadores que desvendaram a programação da imortalidade celular no câncer

Fleck, J.F.: Conexão Anticâncer, 9(2):2015


As células somáticas de nosso corpo sofrem um processo natural de senescência denominado de morte celular programada ou apoptose. A longevidade de uma célula é determinada por um fragmento de DNA, localizado na extremidade dos cromossomas e chamado de telômero.

Em 2009, o Premio Nobel de Medicina foi dividido entre três pesquisadores norte-americanos, os doutores Blackburn da Universidade da Califórnia, Greider da Universidade Johns Hopkins e Szostak da Universidade de Harvard. Eles identificaram, nas células do câncer, o aumento da expressão de uma enzima chamada telomerase.

Nas células do câncer, a telomerase que vai progressivamente repondo o telômero, por um mecanismo de transcrição reversa. Um fragmento de RNA é usado como modelo para sintetizar continuamente o segmento repetitivo de DNA que compõe o telômero. Consequentemente, as células do câncer adquirem aparente imortalidade. Este fenômeno é também denominado de perda da apoptose. A presença da telomerase nas células do câncer permite entender a biologia tumoral e algumas das rotas de ação para novas terapias de alvo molecular.

Em condições normais, a telomerase está presente nas células germinativas do homem, que são permanentemente renovandas no testículo. Esta é a principal razão pela qual os homens mantém sua fertilidade durante toda a vida. A telomerase também está presente nas células tronco embrionárias, permitindo o número de divisões celulares necessárias para a formação de novos órgãos, criando a fictícia expectativa de imortalidade humana.