Recomendação da Organização Mundial da Saúde
Fleck, J.F.: Conexão Anticâncer, 28(10):2015
Em outubro de 2015 a International Agency for Research on Cancer (IARC), órgão oficial da Organização Mundial da Saúde, sediada em Lyon, reuniu vinte e dois pesquisadores provenientes de dez países, visando avaliar a relação entre a ingesta de carne e o risco de câncer. Foram revisados mais de 800 estudos epidemiológicos na busca de associação entre carne e câncer.
Foi utilizado o termo carne vermelha para designar o músculo animal não-processado e carne processada para todas as formas de transformação ou conservação, incluindo o uso de sal, defumação, fermentação ou uso de conservantes.
A maior concentração de estudos ocorreu em câncer de cólon. Uma metanálise revelou uma relação de dose-resposta. Houve um aumento significativo no risco para câncer de cólon baseado na ingestão diária de carne. O aumento do risco de câncer de cólon foi de 17% para cada 100g de consumo diário da carne vermelha e de 18% para cada 50g de carne processada.
A IARC passou a incluir a carne processada no grupo I, que reúne substâncias comprovadamente carcinogênicas como o tabaco. A carne vermelha ficou no Grupo II A, que inclui substâncias potencialmente carcinogênicas.
O efeito carcinogênico está fundamentado na presença de substâncias químicas como as nitrosaminas, os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e aminas aromáticas heterocíclicas. Estudos translacionais mostram alterações de stress oxidativo e danos genômicos celulares, como hipermetilação do DNA e mutação do gene APC. Adicionalmente, há indícios de que a ingesta de carne processada possa estar relacionada com câncer de pâncreas e de próstata.
Embora estudos epidemiológicos sejam sujeitos a críticas metodológicas, os dados são robustos e apontam para a não utilização de carne processada e forte redução na ingesta de carne vermelha.
Referência:
Véronique Bouvard, Dana Loomis, Kathryn Z Guyton, Yann Grosse, Fatiha El Ghissassi, Lamia Benbrahim-Tallaa, Neela Guha, Heidi Mattock, Kurt Straif, on behalf of the International Agency for Research on Cancer Monograph Working Group: Carcinogenicity of consumption of red and processed meat, Lancet Oncology, October 26, 2015
É muito bom que se observe cada vez mais o crescimento de artigos relacionando hábitos alimentares e comorbidades da saúde humana, campo relativamente pobre na medicina, e, devido a sua pobreza, abre margem para uma série de falsas informações veiculadas em diversos meios. Apesar da informação muito interessante, é importante destacar que, mesmo com significativa correlação entre ingesta de carnes e câncer de colo, não existem evidências de que dietas veganas ou vegetarianas diminuam desfechos como mortalidade.
Atualmente é possível observar a ampliação do movimento vegetariano/vegano e de entidades preocupadas com os impactos da produção de carne no meio ambiente. Esta iniciativa é vista ainda com certo receio pela maioria dos profissionais da saúde, que enfatizam seus aspectos negativos, como a necessidade de suplementação de vitamina B12, por exemplo. No entanto, sem a necessidade de rotulação de opção alimentar, sabe-se que o consumo excessivo de carne vermelha é prejudicial para a saúde - como mostra o artigo mencionado - e para o planeta - pelo desmatamento, escassez hídrica, grande quantidade de cereais na alimentação dos animais e emissão de gases do efeito estufa. Dessa forma, iniciativas que visem diminuir os impactos da pecuária, como o “Segunda sem carne”, o “Redutivarianismo” e “Weekday vegetarian” associados a recomendações de substituições adequadas podem trazer benefícios a longo prazo para toda a sociedade.
O processamento de alimentos é sabidamente um grande vilão da saúde nos dias de hoje, já que a mudança de hábitos alimentares, trocando padrões de desnutrição por baixa ingesta pelo de ingesta de calorias vazias, ainda é uma tendência mundial, apesar de uma tentativa de conscientização por determinados grupos. A carne processada é um alimento que está bastante relacionado a essa mudança de padrão alimentar, estando presente em fast-foods, embutidos, comidas cogeladas e afins. Nesse sentido, é fundamental a existência de informações sobre seu risco de consumo para o desenvolvimento de câncer de cólon e outros tipos, pois, segundo a revisão de estudos citada acima, reúne substâncias comprovadamente carcinogênicas.
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