Estudo britânico mostra que 17 tipos de câncer tem relação com sobrepeso e obesidade
Fleck, J.F.: Conexão Anticâncer, 10(6):2015
O índice de massa corporal (IMC) relaciona o peso com a altura, sendo calculado pela fórmula: peso corporal (Kg) / altura (m)2. Considera-se sobrepeso quando o IMC está entre 25 e 30 Kg/m2. Considera-se obesidade quando o IMC está acima de 30 Kg/m2. No mundo, admite-se que 1.6 bilhões de pessoas sejam enquadradas nas categorias de sobrepeso e obesidade. No Brasil, cerca de 50% da população apresenta-se com sobrepeso. Muitas doenças crônico-degenerativas estão associadas ao sobrepeso, principalmente a diabete e o câncer.
Em 2014, um artigo da London School of Hygiene and Tropical Medicine publicado na revista Lancet avaliou a relação de sobrepeso e câncer em 5.2 milhões de pessoas, com um tempo médio de acompanhamento de 7.5 anos. Os resultados foram muito impactantes. Observou-se relação positiva entre sobrepeso e câncer em 17 das 22 formas mais frequentes de expressão da doença. Ao avaliar incrementos de 5 Kg/ m2 no IMC, o estudo revelou uma relação linear de aumento na incidência de câncer no útero, vesícula biliar, rim, tireoide e leucemia. Os restantes 12 outros tipos de tumores também eram influenciados pelo sobrepeso, embora de uma forma não-linear. Nesta categoria destacam-se o câncer de cólon, fígado, ovário e mama em mulheres após a menopausa. A maneira heterogênea como o sobrepeso influenciou as 17 formas de expressão da doença indica mecanismos causais múltiplos, porém em todos admite-se a possibilidade de uma reação inflamatória sistêmica associada a gordura corporal. Quando diabete também está presente, a resistência a insulina, os níveis aumentados de insulina no sangue e a presença de fatores de crescimento tumorais (IGF-I) possivelmente estejam também implicados no aparecimento do câncer.
O sobrepeso, a semelhança do tabagismo é uma das chamadas causas modificáveis de risco. Ambas implicam em uma atitude positiva de mudança comportamental. É necessário mudar o estilo de vida, com adequação da dieta e inclusão de exercício físico diário. Esta recomendação simples pode salvar milhares de vidas e evitar sofrimento.
A educação é a interferência mais importante na prevenção do câncer e todos devem participar ativamente desta iniciativa de levar a Medicina para a sociedade.
Referência:
Bhaskaran,K; Douglas, I.; Forbes, H.; et.al.: Body-mass index and risk of 22 specific cancers: A population-based cohort study of 5.24 million UK adults, Lancet 384:755-65, 2014
Traz à tona uma preocupação persistente quanto ao perfil da população brasileira nos últimos anos quando se lembra que cerca de 52% dela se encontra acima da faixa do sobrepeso. Ao mesmo tempo que, de modo talvez exagerado, nos coloca em previsões de uma “epidemia” de câncer nos próximos anos, considerando ainda que temos uma população que tende cada vez mais a envelhecer. Reforça, porém, a importância imensa da atenção primária de saúde, uma vez que coloca os profissionais de saúde próximos aos pacientes que possuem fatores de risco modificáveis e que possam alterar o prognóstico de uma população toda.
O estudo apresentado mostrou relação entre sobrepeso e 17 das 22 formas mais frequentes de câncer. Considerando o envelhecimento populacional e a redução da mortalidade por causas infecciosas na maioria dos países, doenças cardiovasculares e neoplasias ascendem como as principais causas de mortalidade, principalmente em países desenvolvidos. Dessa forma, fica evidente a importância de enfatizar e promover hábitos saudáveis na prevenção de doenças como medida de saúde pública.
Este estudo traz informações extremamente relevantes para o manejo do câncer no contexto da prevenção primária, ou seja, na modificação dos fatores de risco para o desenvolvimento de neoplasias malignas. Sabendo-se da íntima relação entre sobrepeso e câncer, é necessário pensarmos em como deter as elevadas taxas de prevalência de sobrepeso mundiais. No nível individual, a educação do paciente em relação a hábitos alimentares saudáveis e mudanças de estilo de vida por parte dos profissionais de saúde da atenção primária é vital para a prevenção do câncer, que segundo a OMS será em 2020 a principal causa de morte no mundo tanto em países desenvolvidos quanto subdesenvolvidos. Porém, devemos pensar também em como lidar com essa questão a nível populacional. Enquanto sociedade, temos uma alimentação cada vez mais precária em termos nutricionais, com aumento vertiginoso nas últimas décadas da ingestão de produtos alimentícios ultraprocessados, feitos principalmente de açúcar, gordura, sal e compostos químicos e absurdamente pobres em fibras e nutrientes como vitaminas e sais minerais. São produtos feitos de maneira industrial com porcentagens irrisórias de comida de verdade. Apesar de biologicamente não terem qualquer benefício para o corpo, sendo diretamente associados com sobrepeso (e, portanto diversas doenças incluindo o câncer), seu consumo crescente se dá em um contexto de incentivo político e cultural a esses produtos, um reflexo do modo de produção que vivemos: um capitalismo transnacional mais preocupado com o lucro dos acionistas do que com a saúde das pessoas. A publicidade, a televisão e as mídias sociais tem um papel imenso nessa questão, visto que diversos produtos estão sendo assimilados como parte da cultura alimentar de maneira afetiva, seja através da propaganda da Coca-Cola na mesa cheia e feliz do Natal ou nas campanhas publicitárias que anunciam o Danoninho como produto que auxilia o desenvolvimento infantil. Considero bastante preocupante principalmente o que está sendo feito com o público infantil, dada a importância dessa etapa da vida na formação do paladar e de memórias afetivas em relação à alimentação que se refletem em hábitos alimentares que irão durar por toda a vida. Temos a associação, por exemplo, de que "miojo" é um produto para crianças, assim como que toda festa infantil precisa contar com docinhos e refrigerante. O que estamos ensinando às crianças? Politicamente, também há diversos mecanismos que parecem agir mais em interesse de empresas do que da população. No Brasil, um exemplo bastante palpável são os subsídios dados à empresas produtoras de refrigerante na Zona Livre de Manaus. Qual o interesse do governo brasileiro em isentar de impostos a produção de um produto sem valor nutricional positivo para a população? Acredito que todos esses fatores deveriam chamar a atenção dos profissionais da saúde, e que a alimentação saudável e adequada deva ser defendida pelos mesmos com o mesmo empenho com que defendemos a educação em saúde a nível pessoal. Para termos uma sociedade com menos câncer precisamos considerar os fatores macroeconômicos, políticos e sociais que afetam a alimentação. Um projeto bastante positivo nessa direção é o PNAE, Programa Nacional de Alimentação Escolar, que estimula a aquisição de alimentos orgânicos, sem agrotóxicos e vindos da agricultura familiar para a alimentação nos refeitórios escolares. Movimentos sociais como o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e, a nível internacional, a Via Campesina, lutam em diversos âmbitos pela soberania alimentar e pela alimentação saudável e adequada, tendo como espinha vertebral de uma nova cultura e política alimentar os povos originários e os camponeses a produzir alimentos saudáveis a partir da Agroecologia. Inclusive, uma das recomendações formais do Instituto Nacional do Câncer, o INCA, é o consumo de alimentos agroecológicos. Assim, para além de tentarmos realizar mudanças alimentares a nível pessoal, conversando com os pacientes, precisamos considerar também mudanças estruturais no modo como a sociedade está organizada em relação à alimentação.
O envelhecimento populacional e o estilo de vida da sociedade nos dias atuais constituem fatores independentes para o aumento da prevalência das duas complicações crônicas cujo editorial denota relação de risco entre si (câncer e obesidade). Dessa forma, mostra-se imprescindível a necessidade de esforços multiprofissionais para o devido cuidado com pacientes obesos e com sobrepeso no intuito de prevenir não apenas o desenvolvimento das complicações metabólicas fortemente associadas a esta comorbidade, mas também ao desenvolvimento de outra doença com elevado grau de morbidade e impacto sobre diversas esferas da vida do paciente: o câncer.
O texto apresenta informações relevantes sobre o índice de massa corporal (IMC) e sua relação com o sobrepeso e a obesidade, destacando as consequências desses problemas de saúde em relação ao câncer. O estudo mencionado, conduzido pela London School of Hygiene and Tropical Medicine, fornece dados impactantes que evidenciam uma relação positiva entre o sobrepeso e diversos tipos de câncer. É interessante observar não apenas a relação entre o sobrepeso e o câncer, mas também a influência da obesidade em doenças crônicas, como a diabetes, e sua possível contribuição para o desenvolvimento de tumores malignos. Ao mencionar os mecanismos inflamatórios associados à gordura corporal e sua interação com fatores como insulina e fatores de crescimento tumorais, temos uma visão mais aprofundada sobre as complexidades envolvidas nessa relação. Deve-se sempre ressaltar para os pacientes a importância da adoção de um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta adequada e a prática regular de exercícios físicos, como medidas preventivas fundamentais para evitar o sobrepeso, a obesidade e, consequentemente, o risco aumentado de câncer.
Deve-se sempre ressaltar para os pacientes a importância da adoção de um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta adequada e a prática regular de exercícios físicos, como medidas preventivas fundamentais para evitar o sobrepeso, a obesidade e, consequentemente, o risco aumentado de câncer.
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