Análise de toxicidade no tratamento do carcinoma brônquico de pequenas células

Ganho no periférico

Gössling, G & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 22(10), 2018

O carcinoma brônquico de pequenas células (CBPC) consiste em 15% da expressão morfológica do câncer de pulmão. Trata-se de uma neoplasia agressiva com precoce progressão locorregional e sistêmica, o que determina a ocorrência de 70% dos diagnósticos em fase de doença avançada. Seu tratamento é essencialmente sustentado em quimioterapia há mais de 30 anos, conduzindo a um prognóstico reservado. No entanto, duas evoluções terapêuticas merecem especial atenção. A primeira, mais recente, foi o aumento de sobrevida global, obtido com o acréscimo do anticorpo monoclonal atezolizumab ao programa de quimioterapia. O atezolizumab promove um bloqueio duplo de PD-L1 e B7.1 restaurando a atividade imunológica antitumoral, paralelo ao efeito citotóxico da quimioterapia. O segundo, publicado em 2012, contemplou a customização na escolha do programa de quimioterapia, baseada no perfil de toxicidade.

Em maio de 2012, o Journal of Clinical Oncology publica os resultados do estudo COCIS (Carboplatin-or-Cisplatin-Based Treatment for Small Cell Lung Cancer). Trata-se de uma metanálise sustentada em dados individuais de pacientes com CBPC, obtidos em quatro estudos clínicos prospectivos e aleatórios, comparando quimioterapia baseada em cisplatina com quimioterapia baseada em carboplatina. A relevância está na diferença quanto ao perfil de toxicidade apresentado por cada uma das drogas. Após a avaliação da qualidade dos dados, a análise conjunta destes estudos não demonstrou diferença na sobrevida mediana, sendo de 9,6 meses para o grupo tratado com cisplatina e de 9,4 meses para o grupo tratado com carboplatina (HR 1.08 IC 95% 0.92 a 1.27 P=0.37). Também não foi observado interação entre grupo de tratamento e variáveis clínicas como sexo, estadiamento, performance ou idade. Igualmente, não houve diferença de sobrevida livre de progressão (P=0.25) ou de taxa de resposta (P =0.83). Houve clara diferença de toxicidade entre os dois grupos de tratamento. Conforme esperado, o grupo tratado com carboplatina apresentou maior toxicidade hematológica, enquanto que no grupo tratado com cisplatina predominaram as formas de toxicidade não-hematológicas. O COCIS sugere que o tratamento quimioterápico do CBPC possa ser realizado alternativamente com cisplatina ou carboplatina, sem perda de eficácia, desde que respeitado o perfil de toxicidade com menor risco de instabilizar o paciente. Pequenos ganhos no periférico, mas com importância quantitativa e qualitativa na vida de nossos pacientes.


Referência:

Rossi A, Di Maio M, Chiodini P, et al: Carboplatin- or Cisplatin-Based Chemotherapy in First Line Treatment of Small Cell Lung Cancer: The COCIS Meta-Analysis of Individual Patient Data, J Clin Oncol 30: 1692 -1698, 2012