Uso do PSA no diagnóstico precoce do câncer de próstata

Um exercício de decisão compartilhada

Fleck, J.F.: Conexão Anticâncer, 5(2):2015

O PSA é uma enzima normalmente secretada pelas células epiteliais da próstata. O nível sérico do PSA pode ser avaliado em um exame de sangue rotineiro. O aumento do nível sérico do PSA pode indicar inflamação, hiperplasia prostática benigna ou câncer de próstata. A inespecificidade do diagnóstico lança dúvidas sobre o real benefício da dosagem rotineira do PSA no rastreamento do câncer de próstata.

Em maio de 2012, a revista Annals of Internal Medicine publicou um artigo intitulado Screening for Prostate Cancer: US Preventive Service Task Force Recommendation Statement desaconselhando o uso rotineiro do PSA como exame de prevenção para o câncer de próstata. O artigo baseou sua conclusão no estudo americano PLCO que não evidenciou redução da mortalidade específica por câncer de próstata em pacientes rastreados com PSA. O artigo também avaliou os dados do estudo europeu ERSPC que também não mostrou benefício no rastreamento do câncer de próstata com PSA em cinco dos sete países participantes. Neste estudo, o diagnóstico precoce com PSA evitou uma morte por câncer de próstata para cada 1000 pacientes rastreados, porém com uma mortalidade cirúrgica de 0.5%.  Adicionalmente, o tratamento do câncer de próstata com radioterapia e hormonioterapia pode estar associado a complicações como incontinência urinária e disfunção erétil.

O câncer de próstata é o tumor mais frequente no homem. Estudos de autópsia mostram que focos microscópicos previamente assintomáticos de câncer na próstata são encontrados com muita frequência. Este achado aumenta com a idade podendo ocorrer em até 75% dos homens com mais de 85 anos. Como muitos casos de câncer de próstata tem comportamento biológico indolente, estes homens vão morrer de outras causas, sem nunca ter tido que enfrentar um diagnóstico aversivo e um tratamento indesejável, talvez desnecessário.

Diante destas incertezas, a American Cancer Society recomenda a decisão compartilhada. O paciente tem que ser informado claramente sobre os benefícios e potenciais riscos do rastreamento do câncer de próstata com PSA.

É aconselhável um diálogo franco com o médico assistente. Se o paciente optar pelo rastreamento, este deverá ser feito usando o seguinte critério:

1.     Se não houver fator de risco e uma expectativa de vida acima de 10 anos, é sugerido o rastreamento com PSA à partir dos 50 anos de idade.

2.     Se o paciente é afrodescendente ou tem historia de câncer de próstata em um familiar de primeiro grau (pai, irmão ou filho) com menos de 65 anos, o rastreamento com PSA é antecipado para iniciar aos 45 anos de idade.

3.     Se o paciente tem história familiar de câncer de próstata acometendo mais de um familiar de primeiro grau e em idade precoce, o rastreamento com PSA é antecipado para iniciar aos 40 anos de idade.