Antecipando a positividade do linfonodo sentinela
James Fleck, MD, PhD: Conexão Anticâncer 07 (10), 2021
O melanoma ocupa o quinto lugar na incidência de câncer nos EUA. Em 2021, o Cancer Facts & Figures of the American Cancer Society estimou 106.110 novos casos e 7.180 mortes relacionadas ao melanoma. Dados da International Agency for Research on Cancer mostram a Austrália e a Nova Zelândia com a maior taxa de incidência (ASR = 36,6) e mortalidade (ASR = 4,7), respectivamente. Entre os tumores sólidos, o melanoma ocupa o quarto lugar em incidência na Austrália e o sexto em mortalidade na Nova Zelândia. A incidência de melanoma está aumentando globalmente, e o total de 324.635 novos casos diagnosticados em 2020 parecem estar subestimados. Embora a incidência tenda a aumentar, a mortalidade por melanoma vem diminuindo. A tendência de queda na taxa de mortalidade tem sido atribuída à educação em proteção solar, rastreamento para diagnóstico precoce e novas e eficientes abordagens terapêuticas. O médico deve ser encorajado a realizar um exame dermatológico abrangente, incluindo todos os segmentos cutâneos do corpo. Um treinamento técnico em dermatoscopia seria aconselhável, pois aumentaria a sensibilidade e especificidade diagnóstica. No entanto, controvérsia persiste sobre a eficácia da triagem sistemática para melanoma. Embora não seja baseado em um ensaio clínico randomizado, um programa estatutário nacional para a detecção precoce de câncer de pele foi implementado na Alemanha desde 2008. Ele foi embasado nos resultados do projeto SCREEN, que reuniu 360.288 participantes de um total de 1,8 milhões de cidadãos elegíveis. Cinco anos após o SCREEN, uma diminuição substancial na mortalidade por melanoma foi observada em homens e mulheres. A precocidade diagnóstica deve ser estimulada, pois a progressão da doença leva a alterações moleculares sequenciais que tornam o melanoma mais refratário às intervenções terapêuticas, piorando o prognóstico. A progressão do tumor é caracterizada por proliferação aberrante, perda de apoptose, disseminação metastática e indução de angiogênese, que é mediada por uma via de transdução de sinal chamada MAPK (Mitogen-Activated Protein Kinase). Algumas anormalidades moleculares, como a mutação BRAF V600E, têm sido utilizadas para intervenções terapêuticas específicas no melanoma mais avançado e, juntamente com o diagnóstico precoce, vêm reduzindo a taxa de mortalidade. No entanto, ainda há muito a ser feito. Um tratamento qualificado para melanoma deve incluir melhores desfechos e redução de intervenções iatrogênicas desnecessárias.
Em junho de 2020, o Journal of Clinical Oncology publicou o nomograma preconizado pelo Melanoma Institute Australia (MIA), antecipando a positividade do linfonodo sentinela. O modelo está disponível online (www.melanomarisk.org.au). Conforme mostrado na figura abaixo, o risco calculado é baseado em seis parâmetros: idade, espessura do tumor, subtipo de melanoma, número de mitoses/mm2, ulceração e invasão linfovascular. As complicações pós-operatórias relacionadas à biópsia do linfonodo sentinela incluem infecção, linfedema e dor neuropática, que poderiam ser evitadas usando um limiar para o risco calculado na faixa de 5% a 10%. A positividade do linfonodo sentinela é um importante fator prognóstico, contribuindo também na decisão quanto ao tratamento adjuvante. Com base na área sob a curva (AUC) - ROC (receiver operating characteristic), usando tanto a sensibilidade (verdadeiros positivos) quanto a especificidade (verdadeiros negativos) o nomograma MIA foi validado. O nomograma MIA mostrou uma AUC = 73,9%, em comparação com o nomograma MSKCC usado anteriormente (AUC = 67,7%), proporcionando um ganho absoluto de 6,2%. Consequentemente, o número de pacientes submetidos à biópsia desnecessária do linfonodo sentinela foi significativamente reduzido, contribuindo para um atendimento mais qualificado aos pacientes com melanoma.
Referências:
Breitbart EW, Waldmann A, Nolte S, et al: Systematic skin cancer screening in Northern Germany, J Am Acad Dermatol, Feb 66(2): 201-11, 2012
Serigne N. Lo, Jiawen Ma, Richard A. Scolyer, et al: Improved Risk Prediction Calculator for Sentinel Node Positivity in Patients with Melanoma: The Melanoma Institute Australia Nomogram, J Clin Oncol 38:2719-2727, 2020
É triste pensar que o melanoma tenham uma incidência tão expressiva no mundo, uma vez que, medidas de cuidado, como proteção solar, são tão simples de serem aplicadas. Logo, o rastreamento é chave imprescindível para o diagnostico precoce. Felizmente, assim como cita o artigo, inúmeros estudos estão em andamento com o objetivo de mudar essa triste realidade. E, curiosamente, o Centro de Pesquisas em Oncologia Molecular do Hospital de Câncer de Barretos desenvolve um estudo em relação ao BRAF, mas agora com um novo olhar, sobre o mecanismo de ativação do RAS em variantes não-V600.
Avanços nas pesquisas e descobertas são muito relevantes para a medicina, ainda mais na área da oncologia que a cada ano é mais necessária para a população de modo geral. O nomograma MIA além de se mostrar muito mais eficiente em dados numéricos, também preserva os pacientes de passarem por procedimentos desnecessários, que além de invasivos podem provocar complicações pós-operatórias.
O melanoma, infelizmente, ainda é um câncer muito presente na população. Porém, por mais que a sua incidência continue aumentando, podemos observar uma queda na taxa de mortalidade causada por este, uma vez que tem se disseminado cada vez mais informações a respeito de proteção solar, o diagnóstico precoce está se tornando mais comum e novas abordagens terapêuticas estão sendo desenvolvidas.
A incidência de melanoma no mudo vêm crescendo mas, graças a avanços em sua detecção e tratamento, os índices de mortalidade vêm caindo. O rastreamento a fim de realizar diagnóstico precoce parece uma boa alternativa para uma redução adicional à mortalidade, porém há o risco de sobrediagnóstico e consequente realização de procedimentos desnecessários. Nesse cenário é importantíssima a revisão de critérios para a realização de procedimentos, como o realizado na comparação MSKCC com MIA, a fim de reduzir a realização de intervenções desnecessárias que resultariam em riscos adicionais aos pacientes e mais gastos para os sistemas de saúde.
O melanoma é uma neoplasia de importante incidência e morbimortalidade mundial. As evoluções nos conhecimentos e recursos médicos sobre essa neoplasia, em especial no diagnóstico precoce e tratamento, estão sendo essenciais para diminuir a sua mortalidade. Em um contexto de medicina minimizadora de danos ao paciente, também é importante atuar sobre possíveis causas de morbidade, de modo a reduzir intervenções iatrogênicas desnecessárias. Nesse contexto, o modelo de antecipação de positividade de linfonodo sentinela pode evitar complicações pós-operatórias de sua retirada como linfedema e dor neuropática. Mais um avanço para o manejo oncológico.
O melanoma, uma neoplasia de grande incidência populacional, se destaca por seu alto poder de malignidade quando comparado a maior parte das neoplasias de pele. Por possuir um alto grau de morbimortalidade, é alvo de investigações pela comunidade científica, que tenta trazer inovações para o manejo desse tipo de câncer. Nesse contexto, surgem ferramentas como o normograma MIA que auxliam não só na obtenção do diagnóstico de forma mais precoce (o que por si só diminui desfechos desfavoráveis), mas também no manejo menos danoso da doeça, reduzindo intervenções desnecessárias que, muitas vezes, diminuem a qualidade de vida do paciente.
O melanoma é uma neoplasia muito prevalente na população, que se não tratado precocemente leva a desfechos desfavoráveis, entretanto atualmente há um movimento da saúde pública para melhora de tais índice. É de suma importância as políticas de educação da população sobre a prevenção, tanto em relação ao uso de protetor solar, quanto em relação a auto avaliação da pele, uma vez que o diagnóstico precoce pode representar a diferença entre a possibilidade ou não de cura. Ademais novas formas de tratamento, em especial as imunoterapias, tem contribuído muito para a sobrevida e qualidade de vida dos pacientes com doença não curável. Em resumo, o foco de inovação e políticas públicas no melanoma tem se mostrado efetivo e é eminente para a diminuição de mortalidade e morbidade na população.
Urge a necessidade de melhores treinamentos para médicos lidarem com tamanho problema da saúde pública brasileira. É inadmissível que, em um país de extensão continental como o Brasil não tenha uma política de combate à tal doença de pele. Pegando somente o Rio Grande do Sul como exemplo, temos aproximadamente mil e cem dermatologistas, especialidade apta a lidar com o melanoma em uma população de aproximadamente onze milhões de habitantes. A Austrália, por exemplo, país com a maior incidência global de melanoma, tem aproximadamente 300 dermatologistas para acompanhar o território nacional, com cerca de 26 mil habitantes, mais que o dobro da população do estado sul brasileiro. Isso deve-se a uma política de treinamento dos clínicos gerais para diagnóstico dessa doença que pode vir a ser mortal. Infelizmente, é uma realidade distante ainda para a nação tupiniquim.
A biópsia de linfonodo sentinela, embora forneça importantes informações diagnósticas, é um procedimento invasivo que pode causar morbidade significativa. Portanto, a existência de uma ferramenta sem esse risco e que reduza a necessidade desse procedimento é importante para os pacientes pois aumenta a segurança e também para os médicos pois diminui custos com exame.
A biópsia de linfonodo sentinela, embora forneça importantes informações diagnósticas, é um procedimento invasivo que pode causar morbidade significativa. Portanto, a existência de uma ferramenta sem esse risco e que reduza a necessidade desse procedimento é importante para os pacientes pois aumenta a segurança e também para os médicos pois diminui custos com exame.
Embora os esforços recentes para redução da mortalidade dos melanomas venha dando resultados, trata-se de uma doença cuja incidência vem aumentando, desse modo, não devemos poupar esforços para continuar atacando essa situação. Os bons resultados têm sido atribuídos em grande parte ao diagnóstico precoce, uma vez que evita a progressão para fenótipos de difícil tratamento ou até mesmo refratários. Nesse contexto, vale ressaltar a importância de que esse processo ocorra a partir de critérios bem definidos, como os apresentados pela ferramenta MIA, que além de auxiliarem no diagnóstico, evitam intervenções desnecessárias potencialmente danosas.
O melanoma é um grande exemplo de como as evoluções na medicina têm a capacidade de alterar a história natural das doenças. Mesmo com uma incidência crescente, a mortalidade vem reduzindo; seja pelos novos tratamentos, pela conscientização sobre os riscos da exposição solar ou pelas estratégias de screening. Um dado muito interessante, de um estudo observacional* de pacientes diagnosticados com melanoma entre os anos de 1998 e 2016 em um hospital da cidade de São Paulo, observou, na última década, uma tendência ao diagnóstico mais precoce do melanoma, com uma redução da espessura de Breslow (importante fator prognóstico). Isso impacta profundamente na redução da mortalidade desse câncer tão agressivo. Além disso, os novos tratamentos “personalizados” de acordo com a assinatura molecular também estão revolucionando essa área. *Souza, B. de, Morais Silva, D. H., Valente, N. Y. S., Kakizaki, P., Luce, M. C. A., & Bandeira, L. G. (2021). Cutaneous melanoma: a retrospective study of 18 years. Are there gender differences? Anais Brasileiros de Dermatologia, 96(5), 619–623. https://doi.org/10.1016/J.ABD.2020.08.022
A mortalidade do melanoma vem, felizmente, diminuindo mundialmente. Maior acesso ao atendimento médico, com mais intervenções adequadas e pertinentes, ajudam a melhorar essa estatística. Contudo, sempre devemos pensar na possibilidade de eventualmente intervirmos desnecessariamente, podendo causar mais danos do que benefícios ao paciente. Desse modo, iniciativas como o monograma da MIA surgem no sentido de ajudar os profissionais de saúde a evitar tais danos ao tentar predizer resultados, que antes somente eram acessíveis via exames invasivos, através de fatores preditivos específicos. Ademais, o surgimento de softwares com base em inteligência artificial podem, num futuro próximo, colaborar ainda mais nesse sentido.
Interessantíssimo o nonograma proposto pelo MIA antecipando a positividade do linfonodo sentinela e sua utilidade na redução do número de pacientes submetidos desnecessariamente à biopsia do linfonodo sentinela, procedimento invasivo, com complicações pós-operatórias bastante desagradáveis, mas que permite identificar um importante fator prognóstico do melanoma. O aumento na incidência de melanoma nos últimos anos salienta ainda mais a necessidade desse método.
A incidência global do melanoma vem aumentando, porém a mortalidade tem diminuído graças a medidas como a educação em proteção solar, rastreamento precoce e novas abordagens terapêuticas. A triagem sistemática para melanoma ainda é controversa, mas programas de detecção precoce têm mostrado resultados positivos, como observado na Alemanha. A identificação precoce é fundamental, pois a progressão do melanoma pode torná-lo mais difícil de tratar. Dessa forma, o MIA surge como uma importante ferramenta para a detecção precoce, pois garante uma melhor seleção de pacientes sujeitos a biópsias, assim reduzindo a exposição a riscos do procedimento e diminuindo gastos do sistema de saúde.
Em virtude da alta agressividade do melanoma e da sua alta incidência, é compreensível e necessário o desenvolvimento de ferramentas que auxiliem no tratamento e na identificação do prognóstico do paciente. Nesse sentido, o nomograma preconizado pelo Melanoma Institute Australia (MIA) é extremamente relevante. Isso porque, com a análise de outros parâmetros, ele reduz o número de pacientes submetidos desnecessariamente à biópsia do linfonodo sentinela, evitando infelizes consequências do procedimento que poderiam ser geradas de maneira desnecessária.
O melanoma é um câncer de pele agressivo, cuja incidência aumenta ao longo dos anos. Apesar disso, avanços na educação em proteção solar, detecção precoce e tratamento, resultaram em uma redução na sua mortalidade. O projeto SCREEN realizado na Alemanha demonstrou a importância da detecção precoce na redução da mortalidade, já que a progressão do melanoma faz com que ele se torne mais resistente ao tratamento. Nesse contexto, o nomograma do MIA é um instrumento fundamental, já que busca racionalizar a indicação de biópsias do linfonodo sentinela, de modo a reduzir possíveis complicações e iatrogenias.
Um dos principais fatores para a alta incidência de melanomas na população pode ser devido a percepção errônea da população de que cuidar da pele é desnecessário, sendo apenas visto para fins estéticos. Nesse ponto, ainda que tenha sido feito avanços, reforçar os cuidados básicos na prevenção dos melanomas é essencial. Além disso, treinar os médicos para realizar uma boa dermatocospia nos pacientes que buscam o serviço e utilizar o nomograma MIA pode alterar os números futuros. O estudo conduzido pelo professor da dermatologia Renato Bakos (https://ninho.inca.gov.br/jspui/handle/123456789/12304) reforça como a dermatoscopia se revela importante. Nele foram identificados critérios dermatoscópicos que auxiliam na suspeição de MC nessas lesões, justificando a importância de se fazer a dermatoscopia em todas as lesões pigmentadas, inclusive em lesões clinicamente simétricas e regulares, mesmo sem o consagrado ABCDE clínico para lesões suspeitas.
O artigo informa que tem ocorrido uma diminuição substancial na mortalidade por melanoma tanto em homens quanto em mulheres, no entanto, políticas públicas de saúde que abordem o uso de protetor solar e detecção precoce com profissionais qualificados, devem ser estimuladas, visto que esses dois aspectos são importantes para evitar que o número de mortes por este tipo de câncer volte a aumentar.
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