Avanço na medicina personalizada
James Fleck: Conexão Anticâncer 23 (06), 2020
Mesmo como doença ressecável (estágio I a III), o câncer de pulmão não de células pequenas (CPNPC) está associado a um mau prognóstico, mostrando uma taxa de recorrência grupal superior a 50%. Duas metanálises (LACE e Cochrane) mostraram um pequeno benefício com quimioterapia adjuvante à base de platina, levando a uma redução de 5,4% e 4% no risco de morte, aos cinco anos de acompanhamento, respectivamente. A alta heterogeneidade dos estudos limitou a análise exploratória. No entanto, parece razoável oferecer quimioterapia adjuvante em estágios com maior risco de recorrência da doença (II e III). O melhor prognóstico para o estágio IA desfavorece o uso de quimioterapia adjuvante. A recomendação no estágio IB geralmente é baseada em marcadores prognósticos mal definidos (PET SUV ≥ 10, diferenciação tumoral e invasão linfovascular) e deve ser avaliada criticamente considerando o NNT e o NNH da quimioterapia adjuvante nesse estágio pós-operatório específico do CPNPC.
Recentemente apresentado no American Society of Clinical Oncology Virtual Meeting 2020, o estudo randomizado de fase III, conhecido pelo acrônimo ADAURA, revelou resultados promissores impulsionados pelo uso de osimertinib no tratamento adjuvante do CPNPC EGFR-mutado completamente ressecado. O osimertinib é um EGFR-TKI de terceira geração, capaz de superar a mutação de resistência T790M, mostrando também eficácia em metástases no SNC. No CPNPC avançado EGFR-mutado, o osimertinibproporcionou uma sobrevida global mediana de 38,5 meses, comparando-se favorável com os 31,8 meses obtidos com gefitinib ou erlotinib (HR = 0,80 P = 0,046), superando em muito os resultados históricos observados com quimioterapia paliativa. Com base nesses dados, era natural esperar que o osimertinibviesse a ser testado no cenário adjuvante do CPNPC EGFR-mutado. Um total de 682 pacientes com CPNPC EGFR-mutado em estágio inicial (I-IIIA), completamente ressecados e tratados com quimioterapia adjuvante, foram aleatoriamente distribuídos (1: 1) para receber osimertinib 80 mg diários por via oral ou placebo por um período de até três anos. O desfecho primário foi a sobrevida livre de doença (SLD) e os desfechos secundários foram a sobrevida global e a segurança. Os pacientes foram estratificados de acordo com o estágio (IB, II e IIIA), tipo de mutação (ex19del / L858R) e raça (asiática / não asiática) e adequadamente pareados nos dois braços do estudo. Seguindo a recomendação de um Comitê Independente de Monitoramento de Dados, a eficácia conduziu a uma abertura precoce do estudo, o que motivou a presente avaliação interina. Nos pacientes em estágio II-IIIA, a taxa de SLP em 2 anos foi de 90% com osimertinibversus 44% com placebo (HR = 0,17, P <0,0001). Ao analisar toda população, a taxa de SLP em 2 anos foi de 89% com osimertinib versus 53% com placebo (HR = 0,21, P <0,0001). O perfil de segurança foi consistente com o que já fora descrito para osimertinib. A toxicidade observada mais preocupante foi a doença pulmonar intersticial de baixo grau observada em 3% dos pacientes no braço experimental. Apesar de imaturos, os resultados preliminares do estudo ADAURA são muito promissores. Considerando que o CPNPC continua a liderar a incidência e mortalidade mundial por doenças malignas, os resultados do estudo ADAURA antecipam uma provável mudança nesse cenário desfavorável e, pela primeira vez em um estudo global, obtido com o uso adjuvante de um medicamento inteligente e bem tolerado.
NNT = Number Need to Treat, NNH = Number Need to Harm, TKI = Tyrosine Kinase Inhibitor, EGFR = Epidermal Growth Factor Receptor, PET = Positron Emission Tomography, SNC = Sistema Nervoso Central
Referências:
1. Pignon JP, Tribodet H, Scagliotti GV, et al: Lung adjuvant cisplatin evaluation: a pooled analysis by the LACE Collaborative Group, J Clin Oncol 26 (21):3552, 2008
2. Burdett S, Pignon JP, Tierney J, et al: Adjuvant chemotherapy for resected early-stage non-small cell lung cancer, Cochrane Database Syst Rev, 2015
3. Herbst RS, Tsuboi M, John T, et al: Osimertinib as adjuvant therapy in patients with stage IB – IIIA EGFR mutation positive NSCLC after complete tumor resection: ADAURA, ASCO Annual Virtual Meeting, Abstract LBA5, 2020
Epidermal Growth Factor Receptor é receptor para o fator de crescimento epitelial. Ativado regula o crescimento, sobrevida, proliferação e a diferenciação dos distintos tipos celulares. A frequência de mutações de EGFR em CPNPC varia de 5-30% dependendo da população estudada.
O uso de osimertinib no tratamento adjuvante do CPNPC EGFR-mutado mostrou uma melhora estatisticamente e clinicamente significativa na sobrevida livre de doença para pacientes com estadiamento IB a IIIA, após a ressecção completa do tumor primário. Os resultados do estudo ADAURA superam as expectativas sobre o osimertinib, alcançando benefícios na sobrevida livre de doença em todos os subgrupos analisados, incluindo sexo, idade, tabagismo, raça, estágio da doença, tipo de mutação do EGFR e quimioterapia anterior. Este estudo apresenta uma opção altamente eficaz e promissora que deve mudar a prática médica.
O CPNPC avançado EGFR - mutado completamente ressecado apresentou em novas terapias adjuvantes testadas, com o uso de osimertinib (EGFR-TKI de terceira geração) aumento significativo na taxa de sobrevida média e na qualidade de vida dos pacientes quando comparado ao uso de placebo. Desse modo, esta nova terapia pode revolucionar o tratamento do CPNPC tendo em vista os resultados promissores obtidos, aliado ao fato de que a medicação foi bem tolerada pelos participantes do estudo em questão.
As novas terapias adjuvantes, com o uso de osimertinib, no tratamento do câncer de pulmão não pequenas células EGFR- mutado obtiveram ótimos resultados sobre a taxa de sobrevida dos pacientes em uso da medicação. Esta terapia parece promissora para este tipo de tumor.
O CPNPC é uma grande causa de mortalidade entre pacientes com câncer, porém a descoberta de um medicamento que pode ser usado como adjuvante no tratamento de CPNPC EGFR-mutado pode trazer grandes esperanças para esses pacientes. O uso de osimertinib mostrou uma SLD em 2 anos de 90%, contra apenas 44% no grupo placebo, em pacientes em estãgio II-IIIA da doença e ao analisar toda a população em do estudo, a taxa de SLD em 2 anos foi de 89% para o grupo osimertinib contra 53% no grupo placebo. Esse tipo de resultado é bastante promissor para um futuro tratamento de pacientes com um tipo de câncer tão devastador.
Dentro do âmbito do CPNPC, o qual é o mais prevalente - em torno de 85% dos casos -, descobrir qualquer medicação que possa melhorar a qualidade de vida do paciente e sua sobrevida é algo realmente a ser comemorado. Os dados, embora ainda sejam preliminares, mostram que o osimertinib aparece como uma droga bastante promissora para pacientes com CPNPC portadores de mutação do EGFR.
Novas descobertas e terapias, sobretudo em situações oncológicas de difícil manejo e alta agressividade, demonstram que a verdadeira mudança de paradigma na medicina está muito mais relacionada à tecnologia aplicada a situações e contextos específicos, moldada para tal, do que a tecnologia “dura” por si só. Assim, a medicina personalizada, de precisão, tem base em evidências e avanços direcionados por probabilidades e propósito, sendo cada vez mais promissora para a reversão de cenários clínicos críticos.
As novas terapias no tratamento de câncer de difícil terapêutica demonstra a necessidade de uma medicina cada vez mais de precisão, assim no caso dos estudos realizados no tratamento da neoplasia de pulmão não pequenas , com uso de novas terapias adjuvantes como o osimertinib que é um EGFR-TKI de terceira geração, capaz de superar a mutação de resistência T790M, que melhoraram a taxa de sobrevida desses pacientes, como é demonstrados nos estudos, se mostrando como opção tratamento desses pacientes.
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