Tratamento cirúrgico do melanoma

O que fazer com o linfonodo sentinela positivo?

Rebelado, T & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 31(07), 2017

Melanoma é a sexta neoplasia sólida mais incidente nos Estados Unidos. Em melanomas de espessura intermediária, compreendida entre 1,2 e 3,5 mm, o tratamento é primariamente cirúrgico e associado à avaliação de linfonodo sentinela, que corresponde ao primeiro linfonodo na cadeia de drenagem linfática locoregional. A avaliação do status do linfonodo sentinela tem implicações prognóstica e terapêutica.

O estudo MSLT-I (Multicenter Selective Lymphadenectomy Trial-I), publicado no New England Journal of Medicine (NEJM) em 2014, confirmou o valor prognóstico da avaliação do linfonodo sentinela. Observou-se que o tratamento cirúrgico precoce do melanoma de espessura intermediária proporciona aumento na sobrevida específica, quando combinado à biópsia do linfonodo sentinela. Todavia, permaneceram dúvidas quanto ao papel da dissecação linfonodal imediata e definitiva (DLID), especialmente relacionadas ao índice terapêutico e timing desta intervenção.

Em junho de 2017 o NEJM publica o estudo MSLT II (Multicenter Selective Lymphadenectomy Trial-II). Trata-se de um estudo internacional, aleatório e de fase III para avaliar o impacto prognóstico da DLID em pacientes com melanoma intermediário e com linfonodo sentinela positivo, confirmado por exame histopatológico ou RT-PCR (reverse-transcriptase-polymerase-chain-reaction). O braço com intervenção cirúrgica (DLID) foi comparado ao braço controle que consistiu em observação clínica com ultrassonografia linfonodal, seguida de dissecação linfonodal eletiva na recidiva locoregional.

O desfecho primário foi a sobrevida melanoma-específica. Após um período de três anos de acompanhamento, a sobrevida melanoma-específica foi de 86% em ambos os braços do estudo. A sobrevida livre de progressão foi de 68% no grupo da DLID versus  63% no grupo submetido a observação, associada a uma redução de 69% na recorrência  em cadeia linfonodal regional no braço com DLID. Quanto à sobrevida livre de metástases, não houve diferença entre os braços, talvez devido ao tempo insuficiente de acompanhamento. Todavia, a taxa de linfedema foi expressivamente maior (24%) nos pacientes submetidos a DLID versus 6% nos pacientes do grupo de observação.

Os resultados deste estudo devem ser interpretados com cautela. Em pacientes com melanoma intermediário e biópsia de linfonodo sentinela positivo é possível evitar, temporariamente, a DLID desde que sejam passíveis de adequado seguimento clínico com ultrassonografia linfonodal regional. Todavia, dados mais maduros de sobrevida melanoma-específica poderão determinar mudança de conduta.

 

Referência:

Faries, MB; Thompson, JF; Cochran, AJ; et al: Completion Dissection or Observation for Sentinel-Node Metastases in Melanoma, NEJM 376:2211-22, 2017