Metanálise liderada pela Universidade de Oxford
Basso, J & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 15(01), 2017
A neoplasia de mama é o tumor maligno de maior incidência no sexo feminino. O carcinoma de mama RE+ é o subtipo mais frequente e apresenta característica evolutiva indolente, quando comparado com os subtipos HER2+ ou triplo negativo. O uso de hormonioterapia adjuvante (HTA) por 5 anos oferece um estabelecido ganho em sobrevida livre de recorrência e sobrevida global. Todavia, a despeito da redução na mortalidade obtido com os 5 anos de HTA, um percentual expressivo de pacientes ainda convive com o risco de recidivas tardias ocorridas entre 5 e 20 anos após o diagnóstico. Estudos clínicos prospectivos e aleatórios (ATLAS e aTTom) estendendo o uso de tamoxifeno adjuvante para 10 anos tem demostrado redução adicional em recidiva e mortalidade. O benefício parece ser também observado com a extensão do uso de inibidor da aromatase para 10 anos em pacientes pós-menopausa, porém com evidências contraditórias. Riscos como fraturas associadas a osteoporose, tromboembolismo pulmonar, oncogênese secundária (carcinoma de endométrio NNH = 89) precisam ser levados em consideração na adoção da HTA prolongada para 10 anos. Fatores preditivos do risco de recidiva podem ajudar na recomendação.
Em novembro de 2017, o New England Journal of Medicine publica uma metanálise do grupo Early Breast Cancer Trialists Collaborative Group. Liderado pela Universidade de Oxford, neste estudo foram avaliadas pacientes que se encontravam sem evidência de doença após 5 anos de HTA em um follow-up de 20 anos após o diagnóstico. O objetivo primário foi a avaliação do índice de recorrência tardia e a possível identificação de fatores preditivos. Observou-se que o risco de recidiva tardia a distância (RRTD) aumentava com base nos descritores T (tumor primário) e N (linfonodos) do estadiamento. O RRTD variou de 13% para tumores T1N0 até 41% para tumores maiores (T2) com 4 a 9 linfonodos comprometidos. A graduação histológica e o índice proliferativo Ki67 tiveram importância moderada como fator preditivo independente na recorrência tardia a distância. Como a maioria das pacientes foi diagnosticada antes da virada do século, não foi possível avaliar o uso de testes genéticos na orientação da adjuvância em pacientes com carcinoma de mama RE+ T1N0. Todavia, a metanálise demonstra de forma inequívoca o risco de recidiva tardia neste grupo de pacientes com doença de comportamento biológico indolente. Adicionalmente, reforça a necessidade de intensificar o estudo sobre a extensão da adjuvância hormonal, por enquanto posicionada em um cenário de decisão compartilhada.
Referência:
Pan, H., Gray, R., Braybrooke, J., et al: 20-Year Risks of Breast-Cancer Recurrence after Stopping Endocrine Therapy at 5 Years, New Engl J Med 377: 1836 – 1846, 2017
Sendo o tamanho do tumor primário e o número de linfonodos atingidos os fatores preditivos de maior importância de acordo com o estudo, é essencial que os métodos de rastreamento sejam eficientes, para detectar o quanto antes. Como bem observado no artigo, a maioria das pacientes com carcinoma de mama da metanálise foram diagnosticadas há muitos anos, sendo necessários novos estudos para direcionar a terapia de adjuvância hormonal, a fim de evitar os possíveis efeitos deletérios dessa terapia a longo prazo e, assim, evitar a recorrência tardia.
O câncer de mama é uma das principais neoplasias no que se refere a mortalidade em mulheres. A investigação dos grupos de risco e pesquisas também no follow-up dessas mulheres é importante para avaliar e personalizar situações, podendo inclusive se desenvolver novas terapias e formas de rastreamento baseadas em cada situação e no estadiamento das mulheres afetadas por essa neoplasia, podendo assim aumentar a qualidade e tempo de vida.
Se, de acordo com a metanálise, o estadiamento TN é um preditor para risco de recidiva tardia à distância, talvez seja importante discutir o uso de hormonioterapia adjuvante por período mais prolongado que 5 anos em pacientes que tenham estadiamento com piores prognósticos. No entanto é preciso ampliar estudos para saber os ricos adicionais do uso de HTA prolongado pode trazer e fundamentalmente incluir dados de genética do câncer para individualizar as terapias.
Apesar de o câncer de mama apresentar uma boa taxa de curabilidade (80%), o risco de recidiva tardia continua presente. A utilização de hormonioterapia adjuvante (HTA) por 5 anos apresentou redução da mortalidade, mas aumento da taxa de recidiva; se utilizada por 10 anos, mostrou diminuição da taxa de recidiva, mas aumento de morbidades importantes. O estadiamento TN apresentou-se como fator preditivo para recidivas. É importante que a utilização de HTA por período prolongado seja avaliada de maneira individual, considerando o “custo-benefício” para cada paciente - em relação aos possíveis efeitos adversos. Mais estudos que avaliem riscos adicionais de terapias prolongadas de HTA são imprescindíveis.
O estudo publicado em 2017 mostrou que, após terapia adjuvante endocrinológica, recorrências de câncer de mama continuaram ocorrendo fortemente ao longo do período de 5 a 20 anos, sendo que a recorrência à distância esteve fortemente relacionada com status TN original (risco variando de 10 a 41%). Dessa forma, cabe realização de análises para novas terapias adjuvantes ou até ampliação de tempo da terapia endócrina, especialmente para câncer de mama, tumor maligno de maior incidência no sexo feminino.
É interessante que receptores hormonais e HER2 não pareçam ser preditores de recidiva tardia de câncer de mama, conforme resultado da metanálise apresentada, e é realmente necessário que testes genéticos possam fazer parte de novos estudos a fim de identificar-se ou não uma correlação. A evidencia da necessidade da análise de fatores preditivos como o status TN e o Ki67 na predição de risco é algo que deve ser levado em conta na discussão da adjuvância hormonal compartilhada, com a expectativa de menos recidivas tardias.
Apesar do pequeno número de inclusões, os resultados retomam a discussão do overtreatment gerando aumento de custos e toxicidade.É extremamente importante que se faça mais estudos em cima dessa questão para avaliar com maior eficácia se o uso de terapia hormonal prolongada tem um real benefício para pacientes que tem a expressão de receptores de estrógeno positivo.É inegável que, pelas características desse subtipo hormonal ter um comportamento mais indolente, precisa-se acompanhar de perto as pacientes que expressam esses receptores.
O uso de terapia hormonal adjuvante, como tamoxifeno, ao longo de 5 anos já é conhecido como uma importante estratégia para ganho de sobrevida livre de recorrência e de sobrevida global em câncer de mama RE+. Entretanto, mesmo com esse tratamento longo, algumas pacientes apresentam recorrência da neoplasia entre 5 e 20 anos após o início do terapia adjuvante. Sendo assim, surgiu a hipótese de que, ao se prolongar a hormonioterapia adjuvante por mais 5 anos, poderia haver uma melhora ainda mais importante na sobrevida global e livre de recorrência. Contudo, a terapia hormonal apresenta importantes efeitos adversos que têm um potencial considerável para perda de qualidade de vida. Tendo em vista todo esse contexto, o presente estudo buscou identificar as mulheres que mais se beneficiariam de um tratamento hormonal mais prolongado a partir da avaliação dos riscos, levando-se em conta o TNM, o índice mitótico KI67 e o grau tumoral no diagnóstico inicial. Encontrou-se evidência de um possível benefício, contudo, com um maior risco de efeitos colaterais. Portanto, é substancial que a decisão sobre o uso ou não da hormonioterapia adjuvante seja compartilhada entre o médico e seu paciente.
O uso de hormonioterapia adjuvante (HTA) aprimorou o tratamento do carcinoma de mama RE+, oferecendo, com uso por 5 anos, um ganho em sobrevida livre de recorrência e sobrevida global. No entanto, um percentual expressivo de pacientes ainda convive com o risco de recidivas tardias ocorridas entre 5 e 20 anos após o diagnóstico. Nesse contexto, torna-se necessário realização de estudos que avaliem o uso de HTA por um período estendido levando em consideração fatores de risco como estadiamento TN e avaliando possíveis benefícios e efeitos adversos.
A medicina atual está sendo cada vez mais associada à decisão compartilhada entre o médico e o paciente. No caso da terapia hormonal adjuvante no câncer de mama RE+, esta nova tendência da medicina se torna ainda mais eminente. Uma parcela de pacientes que realizam HTA por 5 anos ainda correm o risco de recidivas após esse período e até 20 anos após o diagnóstico inicial. Estudos sugerem que o prolongamento da HTA para até 10 anos poderiam diminuir esse risco, porém com efeitos adversos específicos desta terapia. Nesse contexto, considero apropriada a decisão compartilhada entre médico oncologista e paciente com neoplasia de mama RE+, não deixando de lado a avaliação inicial do TNM e do Ki67 da neoplasia para a indicação do aumento da duração da HTA.
Fatidicamente, o câncer de mama ainda possui alta mortalidade entre as mulheres. Logo, é necessário que a ciência continue buscando, de forma eficaz, novos métodos de rastreamento para detecção precoce deste tipo de neoplasia, utilizando o tamanho do tumor primário e o número de linfonodos afetados como fatores de maior importância. Acredito que possa ser discutido o uso de hormonioterapia adjuvante por um período maior que 5 anos em pacientes com piores prognósticos de estadiamento, incluindo estudos que avaliem os riscos adicionais para tal uso.
Talvez seja um dos cenários mais frustrantes para o paciente ter que lidar com a recorrência de um câncer. Considerando-se curado, a aceitação de que terá que enfrentar de novo todo o sofrimento de um tratamento oncológico é um processo muito difícil. Sendo assim, é de extrema importância que a oncologia busque formas de diminuir esse risco. O estudo publicado no New England mostra que no cãncer de mama RE+ a probabilidade de recidiva é bastante alta, especialmente em tumores com estadiamento mais avançado. Já são oferecidos tratamentos para que se possa diminuir a probabilidade de recorrência, como o uso de tamoxifeno por 5 anos e o uso de inibidores da aromatase por 10 anos, embora ambos não sejam suficientes para muitos pacientes, além de, no caso dos inibidores da aromatase, ocorrerem efeitos adversos que interferem significativamente na qualidade de vida, o que faz com que a decisão de iniciar o tratamento deva ser compartilhada com o paciente e avaliada criteriosamente pelo clínico. De uma forma geral, os tratamentos oncológicos envolvem riscos e complicações para os pacientes. Mesmo sendo necessários para evitar a progressão natural da doença, é fundamental que se busquem formas de tratamento que sejam o menos prejudicial possível aliadas à uma boa resposta clínica.
Muito interessantes e alarmantes os achados deste estudo bem conduzido e publicado no NEJM. Devido ao carcinoma de mama RE+ ser o subtipo mais frequente dentro do câncer mais frequente nas mulheres, os achados de recidivas são alarmantes, principalmente naquelas com mais alto estadiamento. Achados que de certa forma assusta, já que esse subtipo é considerado o mais indolente e com boa resposta a hormonioterapia adjuvante (HTA). É sem dúvida nenhuma devastador, receber e ser o interlocutor de uma notícia de recidiva de carcinoma. Por conta disso, a ampliação do período de HTA deve ser mais bem discutida e implementada, ademais a leitura desse estudo nos instigue a conhecer melhor o perfil desse subtipo de câncer e produzir com mais eficiência seu tratamento. Concluo assim como vários leitores que já escreveram acima que é extremamente importante novos estudos avaliando os benefícios e os riscos do uso de HTA por tempo mais prolongado com o objetivo de reduzir os números de recidiva.
O câncer de mama é o tumor mais comum em mulheres. Além de toda a carga emocional que recai sobre a paciente ao ser diagnosticada com uma doença maligna, há também toda uma preocupação com a preservação da mama, considerada um dos símbolos do sexo feminino. Por isso, alcançar a cura da doença é uma vitória importante para todas as pacientes, que passam por um processo de autoafirmação após a doença, principalmente se o seu tratamento envolveu a realização de mastectomia. Assim, o seguimento das pacientes após anos sem evidência de doença é muito importante, e os dados trazidos pelo artigo mostram a grande preocupação com a recidiva tardia da neoplasia, que se mostrou elevada, mesmo para uma neoplasia considerada indolente. Uma recidiva pode trazer à tona todos os problemas que a paciente considerava resolvidos, além de proporcionar uma sensação de insegurança enorme em relação ao seu corpo. Dessa forma, é de extrema relevância estudos que trazem informações sobre como melhorar o tratamento disponível para que esses números de recidiva se tornem cada vez menores.
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