Estudo italiano publicado em 2016 mostra que o câncer no cólon esquerdo tem melhor prognóstico
Peruzzo, N & Fleck, J.F: Conexão Anticâncer 22(03), 2017
Dados da Organização Mundial da Saúde apontam o câncer do cólon e reto como a quarta neoplasia maligna mais incidente no mundo. Recentes avanços diagnósticos e terapêuticos tem sido responsáveis por um pequeno, mas significativo aumento na sobrevida em cinco anos. Tradicionalmente, o tratamento em oncologia sempre foi órgão-orientado, definindo as intervenções clínicas e cirúrgicas a partir do tumor primário. A sustentação para tratamentos adjuvantes e paliativos sempre foi dirigida ao câncer de cólon indistintamente, não considerando as diferenças entre o cólon direito e cólon esquerdo. Esta realidade está mudando com a identificação de fatores microambientais celulares preditivos de resposta.
O cólon costuma ser dividido em direito (do ceco até a flexura esplênica) e esquerdo (a partir da flexura esplênica). Esta divisão respeita a origem embriológica do órgão. O cólon direito e os 2/3 proximais do cólon transverso provém do intestino primitivo médio, enquanto o cólon esquerdo, 1/3 distal do cólon transverso e o reto provém do intestino primitivo posterior. As diferenças entre os tumores de cólon direito e esquerdo, entretanto, não se restringem à embriologia. A apresentação clínica do câncer do cólon direito ocorre mais frequentemente por anemia ferropriva (perda sanguínea crônica por via digestiva), enquanto a câncer do cólon esquerdo ocorre por sangramento nas fezes e alteração do hábito intestinal. Também do ponto de vista molecular, o câncer do cólon direito associa-se a maiores taxas de instabilidade microssatélite, mutações do KRAS e BRAF, enquanto o câncer do cólon esquerdo está associado a CIN, p53, NRAS. Existem também diferenças imunológicas relacionadas a lateralidade. Diferenças na relação com a microbiota, associa o câncer do cólon direito com maior imunogenicidade.
Estas diferenças começaram a ser apontadas na literatura, referindo impacto prognóstico da lateralidade do tumor primário no cólon. Um grupo italiano promoveu uma exaustiva revisão sistemática e metanálise publicada na revista JAMA Oncology em outubro de 2016. Foi realizada ampla busca por referências, nas mais consolidadas bases de dados científicos, tais como PUBMED e Cochrane Library. Foram incluídos 66 estudos e mais de 1,4 milhões de pacientes. Como medida do desfecho primário, obteve-se na sobrevida global um HR de 0,82, favorável ao câncer do cólon esquerdo. A partir desse dado, inferiu-se que tumores de cólon esquerdo estariam associados a um risco de morte 18% menor do que aquele observado em tumores de cólon direito. O ganho de sobrevida favorável ao câncer do cólon esquerdo foi independente de fatores como estádio, etnia, quimioterapia adjuvante, ano do estudo, número de participantes e qualidade dos estudos incluídos.
A despeito dos problemas metodológicos do estudo em questão, tais como a heterogeneidade e falta de identificação do status mutacional como fator prognóstico independente, seus resultados têm relevância clínica e corroboram a ideia de que os tumores do cólon direito e esquerdo já não podem ser vistos como uma única doença. Uma vez que o prognóstico do câncer de cólon está atrelado ao sítio do tumor primário, torna-se relevante a seleção por lateralidade em novos estudos prospectivos adjuvantes e paliativos.
Referência:
Petrelli, F; Tomasello, G; Borgonova, K, et al.: Prognostic survival associated with left side and right side colon cancer. A systematic review and meta-analysis, JAMA Oncology October 27th, 2016
O estudo chama a atenção por demonstrar que em pacientes com câncer de cólon aqueles que apresentam tumores do lado esquerdo teriam melhor prognóstico e menor risco de morte em comparação com tumores do lado direito, independente do estágio. Apesar do mecanismo responsável por essa diferença não ser totalmente conhecido, as origens embriológicas distintas e características histológicas e genéticas desfavoráveis parecem exercer papel importante. A despeito de suas limitações, o estudo provê dados relevantes que apontam a necessidade de considerar o lado de origem do câncer de cólon como critério tanto para estabelecer prognóstico como para definir a terapêutica.
O estudo italiano evidencia, a partir da meta-análise de 66 estudos totalizando mais de 1,4 milhão de pacientes, a diferença prognóstica do carcinoma de cólon em relação a sua lateralidade: se a neoplasia primária for de cólon esquerdo (a partir da flexura esplênica), há risco significativamente reduzido de morte (HR, 0,82; 95% CI, 0,79-0,84; P <0,001) em comparação com carcinoma de cólon direito. A partir disso, a localização primária do carcinoma de cólon deve ser considerada na decisão terapêutica e na metodologia dos estudos futuros.
O câncer de cólon e reto, uma das neoplasias mais comuns do mundo, tem sido tradicionalmente tratado como uma entidade única para todo o órgão. O estudo apresentado mostra que isso não é correto, e que melhores resultados podem ser obtidos ao se considerar a divisão do órgão em cólon esquerdo e cólon direito. O estudo também evidencia que tumores localizados no lado esquerdo têm prognóstico mais favorável do que os localizados no lado direito.
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