Jornada vencedora sobre o câncer de pulmão

Avanços na classificação molecular e perfil de expressão de  resistência celular ampliam a ação de EGFR-TKIs

Peruzzo, N & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 27(10), 2017

O câncer de pulmão é a principal causa de morte por neoplasia maligna no mundo. A última estimativa da Organização Mundial da Saúde apontava para aproximadamente 1,5 milhões de óbitos ocorridos no ano de 2012  (International Agency for Research on Cancer). Mais recentemente, alvos moleculares tem permitido a identificação de subtipos de carcinoma brônquico não de pequenas células (CBNPC) com respostas mais favoráveis à intervenção paliativa. Um dos principais alvos moleculares é a mutação do EGFR (Epidermal Growth Factor Receptor) – sensibilizante para os inibidores da tirosina quinase (Tyrosine Kinase Inhibitors – TKIs). Uma metanálise histórica mostrou significativo aumento na mediana da sobrevida livre de progressão em CBNPC-doença avançada (DA) ao comparar quimioterapia (5,6 meses) com os EGFR-TKIs gefitinib e erlotinib (11 meses). Na sequência foi observado que 50% dos pacientes que progrediam após tratamento com EGFR-TKIs de primeira e segunda geração apresentavam a mutação de resistência EGFR T790M. Osimertinib é um EGFR-TKIs de terceira geração que atua tanto sobre a mutação sensibilizante como sobre a mutação EGFR T790M de resistência. Adicionalmente, a droga ultrapassa a barreira hematoencefálica, mostrando-se eficiente em metástases do SNC. Dados preliminares apontam para uma possível vantagem no uso de osimertinib como tratamento de primeira linha paliativa em pacientes com CBNPC-DA EGFR mutado.

Em novembro de 2017, o New England Journal of Medicine publica o estudo FLAURA. Trata-se de um estudo multicêntrico internacional que distribuiu aleatoriamente 556 pacientes com CBNPC-DA EGFR mutado para tratamento com EGFR-TKIs standard (gefitinib / erlotinib) versus osimertinib. A análise evidenciou uma sobrevida livre de progressão favorável ao osimertinib (mediana = 18,9 meses) comparada ao tratamento standard (mediana = 10,2 meses). Dados interinos são prematuros para avaliar o impacto em sobrevida. Adicionalmente, os efeitos adversos de grau 3 ou mais foram menos frequentes com o uso de osimertinib. Os dados do estudo FLAURA apontam para a possibilidade de osimertinib vir a tornar-se o novo standard of care para tratamento do CBNPC-DA EGFR mutado. A vantagem favorável ao osimertinib observada no estudo deve-se provavelmente a ação ampliada da droga sobre a mutação EGFR T790M de resistência. Embora o estudo FLORA esteja restrito ao tratamento paliativo do CBNPC, os avanços na classificação molecular e a identificação progressiva de fatores de resistência celular ampliam as expectativas de impacto futuro no índice de curabilidade desta detestável doença.


Referência:

Soria, JC; Ohe, Y; Vansteenkiste, J; et al: Osimertinib in Untreated EGFR-Mutated Advanced Non–Small-Cell Lung Cancer, N Engl J Med, Nov 18, 2017