Plagiando Neil Armstrong: "Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade"
Buiar, PG; Fleck, JF: Conexão Anticâncer 11(04), 2017
O adenocarcinoma do pâncreas representa a neoplasia de maior letalidade. Esforços tem sido feitos para melhorar o prognóstico. O American Society of Clinical Oncology (ASCO)’s 12th Annual Report on Progress Against Cancer destacou a suscetibilidade genética como um dos principais avanços para o diagnóstico precoce no câncer de pâncreas. Foram identificadas mutações em genes de suscetibilidade (CDKN2A, BRCA1/2 e PALB2) definindo uma população de risco passível de diagnóstico precoce com ressonância nuclear magnética e ultrassonografia endoscópica. Outro esforço consiste tem sido a utilização de abordagem terapêutica múltipla. Embora a cirurgia seja a principal intervenção, avanços tem sido obtidos com o uso adjuvante de radioterapia e quimioterapia.
Um estudo conhecido pelo acrônimo ESPAC-IV foi recentemente publicado na revista The Lancet. O estudo testou a eficácia da combinação Gemcitabina + Capecitabina versus Gemcitabina isolada no tratamento pós-operatório de pacientes com câncer de pâncreas, submetidos a cirurgia com intenção curativa. Este estudo europeu multicêntrico, aberto e de fase III, incluiu 730 pacientes, após ressecção R0 ou R1. Os pacientes foram aleatoriamente distribuídos em um grupo que recebia Gemcitabina isolada (Grupo G) ou Gemcitabina associada a Capecitabina (grupo GC).
Após acompanhamento médio de 43 meses, os pacientes submetidos a quimioterapia combinada tiveram uma sobrevida global mediana de 28 meses versus os 25,5 meses observados no grupo submetido ao uso isolado de Gemcitabina (p=0,032). Na análise de estratificação, o subgrupo de pacientes com cirurgia R0, obteve um benefício na sobrevida global mediana ainda maior (39,5 meses no grupo GC versus 27,9 meses no grupo G). Neste cenário mais favorável, a sobrevida global estimada em 5 anos atingiu o índice inédito 28,8%.
Apesar dos níveis de toxicidade hematológica (neutropenia G3/4 38% versus 24%), gastrointestinal (diarreia G3/4 5% versus 2%) e cutânea (Síndrome Mão-Pé 7% versus 2%) terem sido maiores no grupo da combinação (GC), a qualidade de vida em ambos os grupos não diferiu significativamente.
Os resultados deste estudo indicam um benefício significativo, embora modesto, com a adição da combinação Capecitabina + Gemcitabina no cenário pós-operatório. Trata-se de um pequeno incremento prognóstico na inquietante busca de melhores resultados no tratamento do câncer de pâncreas.
Referências:
Neoptolemos JP, Palmer DH, Ghaneh P, Psarelli EE, Valle JW, Halloran CM: Comparison of adjuvant gemcitabine and capecitabine with gemcitabine monotherapy in patients with resected pancreatic cancer (ESPAC-4): a multicentre, open-label, randomised, phase 3 trial. Lancet 389:1011-1024, 2017
Para um paciente com diagnóstico de câncer, a possibilidade de alguns meses ou dias a mais de sobrevida é importante. Um estudo de benefício modesto, mas útil.
Varios genes são somaticamente mutantes ou epigeneticamente silenciados em cada carcinoma do pâncreas, de acordo com sua evolução gradual de lesões precursoras, e os padrões de alterações genéticas em carcinomas do pâncreas, como grupo, diferem daqueles observados em outras doenças malignas. Para um carcinoma no qual os primeiros sintomas surgem quando a doença geralmente já é considerada incurável, mesmo resultados com pequenos benefícios são muito relevantes, já que, como mencionado no próprio texto, a busca por melhores resultados no tratamento de câncer de pâncreas é inquietante.
Estimativas de 2012 apontaram que 338.000 novos casos de câncer de pâncreas seriam diagnosticados mundialmente e que 331000 pessoas morreriam em decorrência dessa doença, não deixando dúvidas acerca da sua letalidade. O impacto na sobrevida demonstrado no estudo, o que em primeiro momento representaria parcos benefícios, foi considerado suficientemente relevante para que a ASCO atualizasse sua diretriz prática, a qual passou a incluir quimioterapia adjuvante com gemcitabina e capecitabina em pacientes com câncer de pâncreas ressecado. Entretanto, nem todos os envolvidos no estudo foram acompanhados por cinco anos, levantando questionamentos a respeito da confiabilidade dessas estimativas em longo prazo.
O estudo ESPAC-IV avaliou a e eficácia e segurança de gemcitabina e capecitabina, quando comparado com gemcitabina em monoterapia, no tratamento pós-operatório do adenocarcinoma de pâncreas. A mediana da sobrevida global para pacientes no grupo gemcitabina mais capecitabina foi de 28,0 meses em comparação com 25,5 meses no grupo gemcitabina (p = 0, 032). Em análise de subgrupo (pacientes com cirurgia R0), a sobrevida foi ainda maior, chegando a 28,8% em cinco anos. Embora a terapia combinada esteja associada a maior incidência de efeitos adversos hematológicos, gastrintestinais e cutâneas, ela é promissora no sentido de aumentar a expectativa de vida em pacientes com a neoplasia mais letal de todas.
O câncer de pâncreas é a neoplasia de maior letalidade, com localizações e aspectos clínico-patológicos múltiplos e que não possui sintomas ou sinais patognomônicos. O estudo ESPAC-IV observou a eficácia da combinação Gemcitabina + Capecitabina (GC) versus Gemcitabina isolada (G) no tratamento pós-operatório de pacientes com câncer de pâncreas, submetidos a cirurgia R0 ou R1 com intenção curativa. Os resultados foram encorajadores, com uma sobrevida mediana global de 28 meses para o grupo CG e de 25,5 meses no grupo G. Nas cirurgias R0 o resultado foi de 39,5 contra 27,9 respectivamente. Tendo em vista a gravidade dessa patologia, qualquer melhora na sobrevida é um ganho imenso quando acompanhada da manutenção qualidade de vida e, portanto, esse estudo é um grande passo no caminho árduo para o resgate na neoplasia pancreática.
O adenocarcinoma de pâncreas é a 4ª causa de morte relacionada a câncer mais comum nos Estados Unidos, visto seu enorme percentual de letalidade. Atualmente, a resseção cirúrgica é o único tratamento curativo existente. Porém, visto o caráter insidioso da doença e a demora do diagnóstico, apenas 15 a 20% dos pacientes são candidatos para realizarem a cirurgia – 40% dos pacientes já possuem metástases distantes no diagnóstico, enquanto 30 a 40% têm tumores localmente avançados e irressecáveis. Além disso, na maioria das vezes, a sobrevida após o procedimento é restrita. Em casos de cirurgias R0 linfonodo-negativo a sobrevida de cinco anos é de apenas 30% - se linfonodo-positivo, a porcentagem reduz para 10%. Somadas a isso, as altas taxas de recorrência sistêmica (> 80%) e local (> 20%) após a cirurgia isolada demonstram a necessidade de realização de quimioterapia sistêmica, radioterapia e abordagens combinadas que podem ser utilizadas antes e após a ressecção cirúrgica. Dessa maneira, pesquisas sobre novos fármacos e intervenções são extremamentes necessárias para o avanço do tratamento e da cura do adenocarcinoma de pâncreas, visto que nossas opções disponíveis são precárias. O estudo ESPAC-IV, recentemente publicado pela The Lancet, demonstrou que o uso da gemcitabina combinada com capecitabina em indivíduos que realizaram cirurgia R0 mostrou uma mediana de sobrevida de 39,5 meses, enquanto que o uso isolado da gemcitabina teve uma mediana de apenas 25,5 meses. Somado a isso, a sobrevida global estimada em 5 anos foi de 28,8%. Dessa forma, o artigo possibilitou um avanço sutil, porém esperançoso, sobre as possibilidades de aumento da sobrevida desses pacientes, além de auxiliar a guiar as pesquisas em direção a um aumento da taxa de cura.
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