Nova tecnologia pode antecipar o risco de recidiva em cancer de mama inicial
Fleck, J.F.: Conexão Anticâncer, 10(9):2015
Um artigo original publicado na revista Science Translational Medicine em agosto de 2015, abre uma nova perspectiva na detecção precoce da recidiva do câncer de mama em mulheres tratadas com intensão curativa. Trata-se de um trabalho desenvolvido no Institute of Cancer Research em Londres, que utiliza uma nova técnica de rastreamento de mutações sequenciais no DNA de Células Tumorais Circulantes (CTC).
O conceito de micrometástases já é conhecido há várias décadas e baseia-se na suposição da existência de células tumorais residuais após tratamento curativo do câncer de mama em estágios iniciais com cirurgia, radioterapia e quimioterapia adjuvantes. Esta suposição sustentava a teoria do câncer de mama como uma doença sistêmica, justificando o tratamento adjuvante quando já não havia evidência clínica de doença detectável. Mais recentemente tem sido possível isolar as CTC em amostras de sangue de pacientes tratadas com intenção curativa.
O trabalho do Dr. Isaac Garcia Murillas vai além, pois ao coletar as CTC após o término do tratamento curativo, ele identifica um padrão de mutações sequenciais que permitem antecipar a recidiva em aproximadamente 8 meses, precedendo a expressão clínica do tumor. A maior precocidade no diagnóstico da recaída permite que o tratamento seja realizado antes e consequentemente dirigido a menor volume tumoral. Adicionalmente, estudos complementares irão permitir uma análise do perfil genômico das mutações classificando-as como de melhor ou pior prognóstico, com consequente maior personalização nos tratamentos.
Outro aspecto curioso do trabalho está no momento da detecção das CTC. As mutações somáticas identificadas nas CTC por ocasião do diagnóstico inicial e portanto antes do tratamento não são capazes de prever a recidiva. Por outro lado, mutações ocorridas nas CTC detectadas duas a quatro semanas após o tratamento definitivo permitem antecipar o risco de recidiva de câncer de mama e orientar maior precocidade nas intervenções.
Trata-se de um mecanismo dinâmico e multifatorial, cuja elucidação permitirá melhorar qualitativamente e quantitativamente a sobrevida de pacientes com câncer de mama que venham a evoluir para doença metastática.
Referência:
Isaac Garcia-Murillas, Gaia Schiavon, Britta Weigelt, et al: Mutation tracking in circulating tumor DNA predicts relapse in early breast cancer, Science Translational Medicine 7(302), 2015
Trabalhos que investigam o mecanismo das Células Tumorais Circulantes (CTC) são de fundamental importância para a oncologia. O seu primeiro benefício óbvio é permitir o diagnóstico precoce, atuando como um preditor silencioso e possibilitando uma janela de tratamento antes mesmo de as metástases manifestarem-se clinicamente. Um tratamento precoce e, por conseguinte, mais eficaz, torna-se possível, possibilitando um melhor prognóstico. Outro benefício que as CTC trazem é servirem como uma "biopsia líquida", pois por meio de uma amostra de sangue permitem caracterizar o tumor em tecidos não acessíveis à biopsia convencional, podendo direcionar o tratamento quanto às características fenotípicas do tumor. Além disso, estudos mostraram que a avaliação das CTC durante o tratamento mostra flutuações, com a possibilidade de serem utilizadas como biomarcador para monitorar a resposta às terapias.
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