Cancer de mama triplo negativo

Uso de capecitabina na doença residual histológica pós-neoadjuvância

Peruzzo, N & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 04(07), 2017

O câncer de mama é a neoplasia maligna mais comumente diagnosticada no universo feminino. Estima-se que sejam identificados, mais de um milhão de novos casos, anualmente. A melhora na compreensão da biologia tumoral resultou em um aumento nas possibilidades de tratamento, sendo em grande parte responsável pelos elevados índices de sobrevida global.

Há mais de trinta anos, o tratamento de preservação da mama está consolidado em estádios iniciais. A opção de conservação da mama em tumores maiores vem sendo alcançada com o uso de quimioterapia neoadjuvante. Precedendo o tratamento cirúrgico, ela reduz o volume da doença, promovendo downstaging tumoral e consequente redução na extensão do procedimento.

A quimioterapia neoadjuvante está associada a melhores resultados cosméticos, menor índice de complicações pós-operatórias, além de proporcionar avaliação de sensibilidade à quimioterapia. A resposta patológica completa (RPC) após neoadjuvância é um importante fator prognóstico, ocorrendo em aproximadamente 20% das pacientes HER-2 negativas. O problema maior é o universo de pacientes (80%) com doença residual histopatológica (DRH) após neoadjuvância. Neste cenário, é  estimado um risco de recidiva compreendido entre 20 e 30%. Um estudo apresentado no ASCO Meeting e publicado em junho de 2017, no New England Journal of Medicine, avalia o impacto do uso pós-operatório de capecitabina em pacientes com câncer de mama Her-2 negativas com DRH após neoadjuvância.

Masuda et al, identificaram um significativo ganho em sobrevida livre de progressão e em sobrevida global, quando as pacientes com câncer de mama Her-2 negativas que apresentaram DRH  após neoadjuvância foram, adicionalmente, tratadas com capecitabina. A análise de subgrupos permitiu identificar o maior benefício na população triplo-negativa, talvez representando o drive propulsor do observado resultado positivo na população como um todo. A despeito dos resultados animadores, o estudo reuniu somente asiáticos, etnia que metaboliza a capecitabina de forma diferente daquela observada em populações ocidentais. Adicionalmente, a dose utilizada foi considerada alta para os padrões ocidentais. Embora haja limitações na transposição do conhecimento, o estudo é positivo e com validade interna.

 

Referência:

Masuda, N; Lee, S J; Ohtani, S; et.al: Adjuvant Capecitabine for Breast Cancer after Preoperative Chemotherapy, N Eng J Med 376: 2147 – 2159, 2017