Um toque mágico no reparo ao DNA tumoral
Brondani, GS & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 13(11), 2018
Em países desenvolvidos, o carcinoma epitelial de ovário ocupa a segunda posição em incidência entre as neoplasias malignas ginecológicas. A despeito da vigilância clínica, a maior parte dos casos continua sendo diagnosticada em fase localmente avançada, caracterizada por implantes peritoneais e/ou disseminação linfonodal. O tratamento standard consiste na combinação de cirurgia citorredutora + quimioterapia baseada em platina. Apesar de um bom índice de remissão completa, cerca de 70% das pacientes irão recidivar após três anos de seguimento. Entre os perfis genéticos de suscetibilidade destaca-se a mutação BRCA. Em condições normais, os genes supressores tumorais BRCA1 e BRCA2 promovem reparação do DNA (recombinação homóloga), mantendo a estabilidade genética celular. A mutação BRCA torna as células mais suscetíveis à transformação neoplásica. Neste cenário, a enzima poli-ADP ribose polimerase (PARP) trabalha no reparo ao DNA das células tumorais, mantendo sua viabilidade. O conceito de letalidade sintética, evidencia a importância da combinação de um inibidor da PARP (olaparib) com a mutação BRCA, conduzindo a morte celular neoplásica. Trata-se de um toque mágico restringindo a imortalidade tumoral.
Em outubro de 2018, o New England Journal of Medicine publica o ensaio clínico SOLO-1. Trata-se de um estudo aleatório de fase III, duplo-cego e controlado por placebo, visando avaliar o uso de olaparib no tratamento de manutenção do carcinoma avançado de ovário. Foram incluídos 391 pacientes com câncer avançado de ovário, expressando mutação BRCA e que se encontravam em resposta parcial ou completa após quimioterapia baseada em platina. As pacientes foram distribuídas na proporção de 2:1 para tratamento de manutenção com olaparib (braço teste) ou placebo (braço controle). O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão (SLP). O uso em manutenção de olaparib reduziu o risco de progressão de doença ou morte em 70% (HR 0.30 IC 95% 0.23-0.41 p <0,001). Aos 36 meses de seguimento, 60% das pacientes submetidas a tratamento de manutenção com olaparib encontravam-se livres de progressão em comparação com 27% das pacientes tratadas com placebo. Aos 41 meses de seguimento a SLP mediana no braço controle (placebo) foi de 13.8 meses, não tendo sido atingida no braço teste (olaparib). Uma toxicidade aceitável associada a magnitude do impacto obtido no desfecho primário configura um toque mágico no prognóstico do carcinoma avançado de ovário.
Referência:
K. Moore, N. Colombo, G. Scambia, B.-G. Kim, et al: Maintenance Olaparib in Patients with Newly Diagnosed Advanced Ovarian Cancer, N Engl J Med, October 21st, 2018
O carcinoma epitelial de ovário merece atenção especial pela sua incidência expressiva quando se tratando de neoplasias malignas ginecológicas. No entanto, mais do que isso, é imprescindível que atentemos ao fato de que, mesmo com um tratamento standard já consolidado e que proporciona um índice satisfatório de remissão completa, o dado de que 70% das pacientes irão recidivar após três anos de tratamento é alarmante. Observamos, então, a necessidade de uma opção de tratamento que se some ao que já é padrão, na tentativa de diminuir tais recidivas. É nesse quadro que o estudo SOLO-1, ao avaliar o uso de Olaparib - um um inibidor da poli-ADP ribose polimerase (PARP), uma enzima que atua no reparo ao DNA das células tumorais -, mostra resultados muito otimistas. As mulheres em uso de manutenção dessa medicação tiveram o risco de progressão de doença ou morte reduzido em 70%, sendo que aos 36 meses de seguimento, 60% das pacientes tratadas encontravam-se livres de progressão, comparadas com 27% das tratadas com placebo. Temos, agora, uma possibilidade concreta de que a mulher com carcinoma epitelial de ovário seja não só tratada e atinja a remissão, mas também números muito promissores de que essa paciente não sofra recidivas da doença.
O carcinoma epitelial de ovário é um dos principais cânceres ginecológicos em países desenvolvidos, maioritariamente diagnosticado já em fases tardias, aumentando a chance de pior pronóstico e tratamento. O tratamento standart atual baseia-se na cirurgia citorreductora junto com a quimioterapia com platina. Apesar de inicialmente se registar uma remissão completa, os dados aprontam para uma recidiva em 70% dos casos. O estudo SOLO-1 feito com o olaparib (inibidor da enzima poli-ADP ribose polimerase), levando à morte celular neoplásica, veio a demonstrar que este medicamento reduz significativamente o risco de progressão da doença em pessoas com mutação BRCA. Sendo assim, este estudo representa mais um grande passo no mundo da investigação do câncer epitelial de ovário e aumenta a sobrevida livre de progressão da doença.
A taxa de incidência do carcinoma epitelial de ovário é bastante elevada, visto que ocupa a segunda posição em países desenvolvidos. Já existe tratamento padrão para tal condição, o qual consiste em quimioterapia baseada em platina associada a cirurgia citorredutora. No entanto, infelizmente, este tipo de câncer ainda é diagnosticado em fase avançada, além de que, mesmo com um bom índice de remissão, ainda é possível que 70% das pacientes recidivem num período de 3 anos. Sendo assim, o estudo SOLO-1, que consiste no uso de Olaparib - um inibidor da enzima poli-ADP ribose polimerase- evidenciou resultados muito satisfatórios: reduziu o risco de progressão de doença ou morte em 70% e mostrou que em 3 anos de seguimento, 60% das pacientes encontravam-se livres de progressão da doença, comparado com 27% dos pacientes que usaram placebo. Em suma, tal remédio irá afetar de modo muito positivo a vida de milhares de pacientes com carcinoma epitelial de ovário, visto que, agora, além das pacientes poderem entrar em remissão completa, também há chance de que nunca venham a recidivar.
Segundo dados da American Cancer Society de 2019, o câncer de ovário é a primeira causa de morte entre as neoplasias ginecológicas. Apesar disso, ainda não temos métodos efetivos de diagnóstico precoce, uma área a ser estudada. A maioria das neoplasias malignas de ovário, são diagnosticadas em estágios avançados, quando a doença já se estendeu para outros locais, o que aumenta a chance de recidivas devido a focos microscópicos. Atualmente, os tratamentos disponíveis para neoplasia de ovário são cirurgia de debulking associado a quimioterapia com derivados de platina. Porém, cerca de 60% dos pacientes com neoplasia de ovário, apresentarão recidiva, considerando todos os estágios da doença. O carcinoma seroso de alto grau que corresponde a aproximadamente 70% dos casos de neoplasias epiteliais, apresenta recidiva resistente a platina na maioria dos casos, o que denota mau prognóstico e dificilmente pensa-se em cura da doença. Diante disso, o estudo SOLO-1, denota um avanço extremamente importante no tratamento e prognóstico desta doença. O estudo, avaliou a eficácia do olaparibe como terapia de manutenção em pacientes com câncer de ovário com mutação em BRCA 1 e BRCA 2 ou ambos e demonstrou que após um acompanhamento médio de 41 meses, o risco de progressão da doença ou morte foi 70% menor com olaparibe do que com placebo. Com isso, brilha a luz da esperança para o prognóstico dessas pacientes, agora podemos falar com maior expectativa em cura e em maior tempo de vida livre da doença.
Apesar de não apresentar a maior taxa de incidência, o câncer de ovário é responsável pela maior letalidade entre as neoplasias ginecológicas. Há fatores que contribuem para isso, como o diagnóstico tardio e a recidiva de 70% em três anos com o tratamento standart. Considerando as diversas limitações diagnósticas, desde o início da graduação, sempre pensei que esforços devem ser empregados no tratamento de casos já estabelecidos. De fato, o estudo SOLO-1 mostrou que o uso de olaparib em pacientes com câncer avançado de ovário e com mutação nos genes BRCA1/2 (majoritariamente germinativa) reduziu o risco de progressão da doença e de morte em 70% (HR 0.30). Portanto, apesar de haver efeitos adversos sérios (7% de anemia e 1% de leucemia mieloide crônica), a grande magnitude do efeito e a força do desfecho primário (sobrevida livre de progressão) fazem do estudo um importante avanço na terapêutica dessa dramática neoplasia.
De fato o estudo de fase 3 SOLO-1 tem o potencial de mudar o prognóstico do carcinoma epitelial de ovário de forma mágica.No estudo de fase 3 SOLO1, o uso de terapia de manutenção com Olaparib mostrou um benefício substancial em relação à sobrevida livre de progressão entre mulheres com câncer de ovário avançado recentemente diagnosticado e uma mutação BRCA1 / 2, com um risco 70% (HR 0.30) menor de progressão da doença ou morte com Olaparib do que com placebo. Além disso,segundo o estudo, a estimativa de Kaplan-Meier da taxa de liberdade da progressão da doença avaliada pelo investigador e da morte foi de 88% no grupo do Olaparib e de 51% no grupo do placebo em 1 ano; 74% e 35%, respectivamente, aos 2 anos; 60% e 27% aos 3 anos; e 53% e 11% aos 4 anos.Assim, o potencial do Olaparib dar esperança às pacientes que precisam,revolucionando o prognóstico do carcinoma epitelial de ovário.
O carcinoma epitelial de ovário merece destaque pela elevada incidência que possui: ocupa o segundo lugar entre as neoplasias malignas ginecológicas mais comuns em países desenvolvidos e também no Brasil. Apesar do rastreamento clínico existente, a maioria dos casos é diagnosticada tardiamente e, dessa forma, a taxa de recidiva pós-tratamento padrão (cirurgia citorredutora + quimioterapia baseada em platina) é alta (em mais de 50% dos casos o tumor recidiva após 3 anos). É sabido que a mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 aumenta a suscetibilidade do desenvolvimento desta neoplasia. Células tumorais com essa mutação possuem a enzima “poli-ADP ribose polimerase” (PARP), que têm a função de reparar o DNA e manter a viabilidade celular, tornando o tumor “imortal”. Nesse contexto, surgiu o olaparib (inibidor da PARP), uma terapia alvo destinada a inibir a reparação do DNA de células neoplásicas. Foi testado em várias fases do estudo SOLO-1, em pacientes com câncer de ovário e mutação do gene BRCA, demonstrando benefício estatisticamente significativo em sobrevida livre de progressão em comparação ao placebo. Nesse caso, a terapia-alvo representa um avanço enorme no tratamento, sobrevida, prognóstico e qualidade de vida das inúmeras pacientes que sofrem dessa neoplasia.
O trabalho citado, ao evidenciar o substancial benefício do olaparib no tratamento do câncer de ovário, ilustra o fascinante desenvolvimento científico na terapia antineoplásica, alavancado no final da década de 90 com a elucidação das vias de sinalização envolvidas no controle da proliferação e da diferenciação celular. Desde então, assistimos à projeção de diversas moléculas que, por interferir nessas vias, compõem a terapia-alvo molecular, uma mudança de paradigma que vem demonstrando notável sucesso clínico no tratamento de uma variedade de tipos de câncer. Até então, além da abordagem cirúrgica, o tratamento do câncer era pautado em radioterapia e em quimioterapia, métodos não seletivos que destroem também muitas das células normais, o que resulta em inúmeros efeitos adversos. Como a quimioterapia convencional, a terapia-alvo baseia-se em agentes farmacológicos que inibem o crescimento, aumentam a morte celular e restringem a disseminação tumoral. No entanto, focando em alterações moleculares específicas, exclusivas de um tumor em particular, essa nova geração de fármacos tem como proposta maior eficácia e segurança. Dentre tais agentes, destacam-se anticorpos monoclonais – que podem estimular o sistema imune, inibir interações moleculares essenciais para a sobrevivência celular, ou transportar uma toxina letal para a célula tumoral – e pequenas moléculas especializadas, que promovem ou inibem certas atividades moleculares ou celulares, a exemplo dos inibidores da PARP, como o olaparib. Além dessas, outras abordagens estão sendo desenvolvidas, revelando-se promissoras para, como num toque mágico, melhor tratar pacientes com câncer, complementando as terapias tradicionais atuais.
Considerando a elevada prevalência e letalidade (taxa de sobrevivência em cinco anos é de 20 a 30%) desse tipo de tumor maligno, a descoberta de novas terapias que levem a um aumento na sobrevida livre de progressão é com certeza um avanço com impacto significativo para a sociedade. Apesar disso, é importante ressaltar o fato de que as mutações em BRCA1 e BRCA2 são presentes em aproximadamente 5 a 10% dos tumores de mama e 15% dos tumores de ovário¹, além de que o emprego do medicamento foi para tratamento de manutenção para as neoplasias suscetíveis à quimioterapia com derivados de platina, o que torna a população-alvo do medicamento mais restrita, apesar de ainda ser um número expressivo. Ainda, vale ressaltar que apesar dos resultados satisfatórios e promissores que levaram à aprovação do medicamento pela ANVISA no início deste ano de 2019, o medicamento não é fornecido pelo SUS e, em uma perspectiva nacional, é de acesso extremamente restrito já que cada caixa (contendo 56 comprimidos) custa aproximadamente 14 mil reais em uma rápida busca pela internet. Sendo assim, acredito que a busca por novos fármacos com foco em moléculas especializadas, como o Olaparib, são o futuro para terapias de maior sucesso no tratamento oncológico, mas sua descoberta (ainda) não sinaliza mudanças reais para os tratamentos existentes na realidade socioeconômica brasileira. Cabe à comunidade científica e farmacêutica trabalhar para tornar maior o acesso a essas medicações de excelência. 1. Anglian Breast Cancer Study Group. Prevalence and penetrance of BRCA1 and BRCA2 mutations in a population-based series of breast cancer cases. Br J Cancer. 2000;83.
Sendo o carcinoma epitelial de ovário uma das principais causas de morte por neoplasias malignas ginecológicas, o estudo sobre suas causas torna-se de extrema importância. As buscas por tratamento se baseiam na fisiopatogênese da doença, podendo assim evitar seu avanço ou sua recidiva. No caso do carcinoma epitelial de ovário, acredita-se, hoje, que o principal mecanismo seja uma mutação no gene BRCA, e também na enzima PARP, que mantém a viabilidade das células tumorais. Desta forma, está sendo testado um novo medicamento, Olaparibe, que inibe a enzima PARP, causando assim a morte das células tumorais. Trata-se de um avanço, pois sendo uma terapia-alvo, apresenta maior segurança e eficácia, e menos efeitos colaterais. Portanto, assim como já é mostrado em ensaios clínicos, o uso de Olaparibe em adjuvância com outros medicamentos diminui a progressão da doença e também o risco de recidiva.
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