Adjuvância no adenocarcinoma da junção esofagogástrica (JEG)

Limitações de um estudo observacional

Buiar, P & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 06(11), 2017

O adenocarcinoma da JEG tem comportamento biológico próprio e distinto dos carcinomas do esôfago e do estômago. Tem apresentado incidência crescente e elevada tendência à disseminação sistêmica. O diagnóstico é frequentemente tardio e manifesto por doença localmente avançada (T3-T4 e N+). O tratamento consiste em cirurgia associada a quimioterapia perioperatória (MAGIC Trial) ou tratamento neoadjuvante com quimio-radioterapia (QRT) seguido de cirurgia (CROSS Trial). Persiste indefinida qual das duas abordagens proporciona maior benefício, o que somente será esclarecido através de estudo prospectivo aleatório de fase III, preferencialmente multi-institucional.

Na tentativa de antecipar resultados foi publicado no JAMA Oncology em setembro de 2017 um estudo observacional retrospectivo utilizando pacientes cadastrados no National Cancer Database norte-americano com diagnóstico estabelecido de adenocarcinoma do esôfago distal ou cárdia no período de 2006 a 2013. O objetivo consistiu em avaliar o papel da quimioterapia adjuvante após tratamento combinado com QRT e cirurgia. Apesar da heterogeneidade dos grupos (adjuvância x observação), o pareamento foi buscado por análise de equivalência baseada em escores de propensão, visando reduzir vieses de seleção e tempo. Guardando as limitações de um estudo retrospectivo, observou-se um aumento significativo na sobrevida mediana no grupo submetido ao tratamento adjuvante (40 meses) versus o grupo da observação pós-operatória (34 meses), expressando um HR de 0.79 e um p menor do que 0.001. Todavia, as limitações metodológicas do estudo impedem a definição de um novo standard para o tratamento do adenocarcinoma da JEG. Aponta para a necessidade de novos estudos de fase III, desenhados especialmente para avaliar o impacto da adjuvância na sobrevida mediana do adenocarcinoma da JEG.

O cenário fica ainda mais turbulento à luz dos dados recentemente apresentados por um grupo alemão de Frankfurt (FLOT 4 Trial) que ao substituir na quimioterapia perioperatória do adenocarcinoma da JEG o triplet baseado em antraciclina (MAGIC) pelo triplet baseado em docetaxel (FLOT) atingiu a inusitada sobrevida mediana de 50 meses. Adicionalmente, torna-se necessário desvincular o adenocarcinoma da JEG dos estudos envolvendo carcinoma de esôfago, pois análises provenientes do Cancer Genomic Atlas revelam que o adenocarcinoma da JEG apresenta fenótipo molecular e instabilidade cromossômica que o aproxima muito mais do adenocarcinoma do estômago. Idealmente, o adenocarcinoma da JEG deverá ser estudado como entidade nosológica independente, revelando a necessidade crescente de desvincular comportamento biológico de sítios anatômicos.

 

Referência:

Mokdad, A; Yopp, A; Polanco, P; et al: Adjuvant Chemotherapy vs Postoperative Observation Following Preoperative Chemoradiotherapy
and Resection in Gastroesophageal Cancer
A Propensity Score–Matched Analysis, JAMA Oncol, Sep 21st, 2017