A imunoterapia no cenário curativo do câncer de pulmão

Consolidação com durvalumab após tratamento combinado do carcinoma brônquico não de pequenas células (CBNPC) estádio III com quimioterapia e radioterapia

Buiar, P & Fleck, JF: Conexão Anticâncer 03(10), 2017

Dados da Organização Mundial da Saúde apontam para cerca de 1,8 milhões de casos novos de câncer de pulmão identificados anualmente no mundo (International Agency for Research on Cancer).

Por ocasião do diagnóstico do CBNPC, apenas 20% dos casos são ressecáveis e 30% encontram-se em situação de doença localmente avançada, cujo tratamento standard é a combinação quimioterapia + radioterapia (QRT). Todavia, além de tóxica a QRT promove um resgate curativo em apenas 15% dos casos. Um contínuo esforço internacional em pesquisa clínica procura modificar favoravelmente este desfecho. Dados promissores surgiram com o advento de anticorpos monoclonais contra os check points imunológicos PD1 e PDL1, capazes de interferir no reconhecimento e morte das células tumorais. O durvalumab é um anti-PDL1 seletivo e de alta afinidade, potencialmente eficiente no tratamento curativo do CBNPC.

Em setembro de 2017 o New England Journal of Medicine publica a análise interina do estudo PACIFIC. Trata-se de um estudo aleatório de fase III em pacientes com CBNPC diagnosticados com doença localmente avançada e candidatos a tratamento com QRT. Distribuídos na proporção de 2:1, o braço teste incluiu pacientes que receberam tratamento de consolidação com durvalumab e o braço controle foi tratado com placebo. O racional para o estudo foi sustentado em evidência prévia de atividade antitumoral de durvalumab no cenário paliativo do CBNPC e no conhecido fator preditivo de expressão de PD1 e PDL1 magnificado pela up regulation ocorrida pós-QRT. Embora ainda precoce, os resultados são muito favoráveis. A mediana da sobrevida livre de progressão, definida no estudo como um desfecho primário foi de 16,8 meses no braço da consolidação com durvalumab versus 5,6 meses no braço controle (HR 0,52 e p menor do que 0,001). Adicionalmente, a taxa de efeitos colaterais de graus 3 e 4 não foi significativamente aumentada pelo acréscimo de durvalumab. A complicação predominante (pneumonite) ocorreu em ambos os braços do estudo, estando relacionada a toxicidade da QRT, a despeito da sofisticação técnica V20 que restringiu a 35% o volume pulmonar irradiado com mais de 20 Gy. Aguarda-se com expectativa favorável o desfecho sobrevida global na próxima análise do estudo PACIFIC.

 

Referência:

Antonia, SJ; Villegas, A; Daniel, D; et al: Durvalumab after Chemoradiotherapy in Stage III Non–Small-Cell Lung Cancer, New England Journal of Medicine, September 8th, 2017