A cinética ascendente da COVID-19

A nova doença maligna

James Fleck, MD, PhD: Conexão Anticâncer 28(02), 2021

 

A COVID-19 foi identificado pela primeira vez em Wuhan, China, em dezembro de 2019. A Organização Mundial da Saúde declarou uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional em janeiro de 2020 e uma pandemia em março de 2020. Os dados epidemiológicos passaram a ser registrados diariamente, em todo o mundo. Atualmente, foram alcançadas 2,5 milhões de mortes, atribuídas diretamente a COVID-19. A cinética ascendente da COVID-19 pode ser vista na representação gráfica mensal de mortes acumulativas (mostrada em azul) e a respectiva mediana de mortes diárias (mostrada em laranja).


 Esses números confirmam a COVID-19 como a nova doença maligna. A mortalidade por COVID-19 (2,5 M) é maior do que o número combinado de mortes anuais em todo o mundo por câncer de pulmão + câncer de mama (2,48 M), os dois tumores malignos que mais matam no mundo. A comparação se torna mais impressionante usando números norte-americanos. Nos EUA, a taxa bruta de mortalidade para a COVID-19 (69,88 óbitos / 100.000 habitantes) é mais de ½ da taxa bruta de mortalidade para todos os tipos de câncer combinados (158,3 óbitos / 100.000 habitantes). A relevância da COVID-19 é enfatizada por estar mudando a posição relativa das doenças transmissíveis no cenário epidemiológico global. Ao somar a carga de mortalidade causada por COVID-19 (2,5 M) com a mortalidade histórica por doenças transmissíveis (7,3 M), o resultado é aproximadamente igual ao número total de mortes causadas por todos os tipos de câncer no mundo, anualmente (10 M). O gráfico representa a posição relativa das cinco principais causas de morte, que somados respondem por 44,5 milhões (75% de todas as mortes registradas no mundo).


A sobrecarga da mortalidade provocada por COVID-19 aumentou o impacto social das doenças transmissíveis, o que pode indicar uma tendência para os próximos anos. Mais esforços e recursos devem ser usados ​​para pesquisa, controle e tratamento de doenças transmissíveis. O que tem sido feito para enfrentar a COVID-19 não é suficiente, pois a doença segue avançando e causando danos permanentes à sociedade, com aumento progressivo do número de óbitos, sobreviventes com sequelas físicas e emocionais, perda da qualidade de vida e graves danos à mobilidade global. Após o surgimento da COVID-19, a sociedade enfrenta as consequências de uma catástrofe todos os dias. No início deste ano, os EUA registraram 5463 mortes por COVID-19 em apenas um dia (12 de fevereiro de 2021), o que representou quase 3 vezes o número total de mortes causadas pelo furacão Katrina (1.833). A COVID-19 causou quase a mesma média de mortes diárias que a Primeira Guerra Mundial (20 milhões de pessoas morreram entre 28 de junho de 1914 e 11 de novembro de 1918). A COVID-19 causou cerca de ¼ da média diária de mortes ocorridas na Segunda Guerra Mundial (75 milhões de pessoas morreram entre 1º de setembro de 1939 e 2 de setembro de 1945).

 

O número reprodutivo (Ro) do SARS-CoV-2, disponível a partir de evidências globais, fornece uma estimativa da extensão da transmissão viral. Ro indica o número médio de pessoas que contrairão SARS-CoV-2 à partir de uma pessoa contaminada. Uma revisão sistemática e metanálises indicaram um número reprodutivo estimado de 2,87, porém com um alto grau de heterogeneidade. Os dados apontam para um aumento exponencial da COVID-19. O impacto epidemiológico é ainda maior, considerando que também foi relatado um excesso de óbitos por outras causas. O jornal JAMA relatou recentemente um aumento de 20% nas mortes não-COVID-19 devido à disruptura causada pela pandemia. O aumento mais significativo ocorreu em doenças cardíacas e doença de Alzheimer / demência. Os três estados com a maior taxa de mortalidade em excesso per capita foram Nova York, Nova Jersey e Massachusetts. É hora de interromper esse processo biológico inaceitável. Alguns países já estão atingindo o número reprodutivo viral esperado Ro <1, mas isso só será eficaz quando a maioria dos países atingir o mesmo nível. No século XXI, nosso planeta se tornou uma pequena vila muito suscetível a doenças transmissíveis.

 

Referências:

1.     World Health Organization: The top Ten causes of death, December 9th, 2020

2.     Hannah Ritchie and Max Roser: Causes of Death, Our World in Data, December 2019

3.     Global Cancer Observatory: International Agency for Research on Cancer, World Health Organization, 2020

4.     Steven H. Woolf, Derek A. Chapman and Jong Hyung Lee: COVID-19 as the leading cause of death in the United States, JAMA, December 17th, 2020

5.     Arif Billah, Mamun Miah and Nuruzzaman Khan: Reproductive number of coronavirus: A systematic review and meta-analysis based on global level evidence, Plos One, November 11th, 2020

6.     Woolf SH, Chapman DA, Sabo RT, Weinberger DM, Hill L, Taylor DDH. Excess Deaths From COVID-19 and Other Causes, March-July 2020. JAM, 324(15):1562–1564, 2020

7.     Wim Trypsteen , Jolien Van Cleemput , Willem van Snippenberg, et al: On the whereabouts of SARS-CoV-2 in the human body: A systematic review, PLOS Pathogens, October 30th, 2020